A nanotecnologia cuida do desenvolvimento de materiais e dispositivos de dimensões microscópicas, da ordem de 100 nanômetros ou menos (1 nanômetro = 1 bilionésimo do metro). Hoje ela é utilizada em alguns setores e está presente no nosso dia a dia, às vezes de forma tão natural que nem percebemos, mas a previsão é de que ela possa ser muito útil no futuro, colaborando, por exemplo, na saúde, beleza e diversão. Omar Paranaíba, do Laboratório de Inteligência Computacional Aplicada, é o primeiro doutor na área de concentração em nanotecnologia no Departamento de Engenharia Elétrica da PUC-Rio. Apesar de não existir ainda um curso específico de nanotecnologia na Universidade, diversos departamentos já tiveram teses defendidas na área. Omar revela as aplicações e pesquisas dessa tecnologia e como a PUC está se adaptando a essa modernidade.
Qual é a aplicação da nanotecnologia no nosso cotidiano?
Ela facilita, por exemplo, a limpeza de água, o desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação mais eficientes, a geração de energia limpa e de fontes renováveis, e exemplo disso é o aumento da eficiência de células solares, os painéis solares. Existe inclusive uma pesquisa sobre superfície hidrofóbica, que faz com que a água que bate no vidro ou na parede não vire gota, facilitando a visibilidade do condutor do carro, por exemplo.
Como a nanotecnologia se aplica na medicina? Como pode trazer avanços nessa área?
Na medicina, a nanotecnologia pode ser usada na produção de cosméticos. Hoje existem cremes e protetores solares com nanopartículas. Essas substâncias refletem a radiação e, não sendo visíveis a olho nu, não dão origem àquela “pasta branca”, que esteticamente é ruim. Na área neurológica, pode ajudar na reconstituição das células nervosas, responsáveis pela comunicação dos estímulos do nosso corpo. Um outro exemplo é o uso do analgésico. Hoje em dia, para aliviarmos uma dor de cabeça, tomamos um analgésico que irá atuar no corpo todo, podendo causar efeitos colaterais em outras partes do corpo. Os remédios dessa nova geração poderão ter atuação direta sobre os tecidos desejados, diminuindo os riscos de complicações indesejadas. Se houver um sistema inteligente onde o medicamento possa estar inserido, o indivíduo poderá tomar uma dose necessária só para aquele tipo de problema. A ideia é fazer uma cápsula pequena e inteligente o suficiente para identificar o local da dor, através talvez do pH, da variação na corrente sanguínea ou de um hormônio que a pessoa produza. Assim, ela vai liberar o medicamento somente no local da dor. Por enquanto, isso existe mais em pesquisa, ainda não há muito desenvolvimento prático.
Em que campos o senhor prevê a utilização da nanotecnologia?
A nanotecnologia vai ser usada em todos os campos, em qualquer tipo de material. Vai ser uma grande revolução na maneira como nós desenvolvemos os materiais, porque os blocos construtores de todos os objetos são os mesmos, a questão é como eles podem ser organizados, como juntar as moléculas. Por serem tão pequenas, nós não tínhamos capacidade de manipular nessa escala. Somente nos últimos anos, com o desenvolvimento de certas ferramentas, nós começamos a manipular esse processo. Uma nanotecnologia que é tão natural são os processadores de computador. Os transistores, que são os componentes básicos do processador, já estão em escala nanométrica. O computador tem bilhões de transistores, o que só foi possível graças à miniaturização desses transistores até chegar à escala nanométrica, que é onde nós estamos hoje, com 32 e 64 nanômetros. Já existem menores, mas só em laboratórios, em breve estarão lançando chips com transistores de18 nanômetros.
Quais são os principais centros de desenvolvimento dessa tecnologia?
Os principais países a desenvolver essa tecnologia são os Estados Unidos, países europeus, Japão e países
Quais são os planos da Universidade para o desenvolvimento dessa técnica?
A nanotecnologia é extremamente multidisciplinar, reúne trabalho de diversos profissionais, de diversas áreas, principalmente o químico, o físico, o engenheiro de materiais, o engenheiro elétrico, o profissional de informática, o biólogo, o farmacêutico, o médico. Meu orientador, por exemplo, foi um professor de química, mas também tive colaboração da Engenharia de Material, da Física e até de especialistas de outras instituições.
Edição 222