A professora do departamento de química, Camilla Buarque, desenvolveu um projeto que permite o barateamento do tratamento da fibrose cística. O patenteamento da descoberta foi feito há dois meses, com o auxílio da Agência PUC-Rio de Inovação (AGI). A paixão pelo tema começou com o nascimento do filho, que sofre da doença. A fibrose cística é causada por uma mutação no gene CFTR, o que resulta em uma produção excessiva de muco no corpo. O alto custo de produção dos remédios faz com que o tratamento da fibrose cística seja inacessível para grande parte da população atingida. Por esse motivo, Camilla desenvolveu uma pesquisa para encontrar novas substâncias capazes de agir no gene afetado pela doença.
O medicamento mais eficaz para o tratamento da condição é o Trikafta, desenvolvido pela empresa Vertex. O remédio possui uma grande taxa de sucesso, mas chegou a custar U$360.000 por paciente ao ano. Atualmente o Trikafta é fornecido pelo SUS e tem um custo de produção de R$80.000. Buarque, tocada pelo tema, decidiu utilizar os conhecimentos sobre química para auxiliar no desenvolvimento de um composto mais barato. A pesquisadora procurou apoio em diversos laboratórios e conseguiu ajuda em Portugal. Lá, a química realizou uma série de testes que apontaram compostos que, juntos, têm um efeito similar ao Trikafta. Camilla está ansiosa para os próximos passos do projeto, mas reconhece a necessidade da mobilização dos órgãos públicos para o implante da pesquisa.
– A gente está contribuindo agora, não só para criar artigos científicos,mas tentar contribuir para o país de alguma forma. Ainda assim, é claro que é necessário ajuda do outro lado. O país tem que investir também, porque esses compostos tiveram testes iniciais, mas é preciso continuar. Pode demorar dez anos para desenvolver um produto. É preciso investimento, que é um lado que às vezes fica um pouco aquém aqui no Brasil. – explicou Camilla.
O anúncio do registro de patente foi feito em um evento organizado pela AGI, na Casa de inovação, no dia 12 de setembro. Foram convidados três pesquisadores da PUC, que tiveram suas invenções oficialmente reconhecidas recentemente. A agência é parte do Núcleo de Inovação Tecnológica da faculdade e tem como objetivo a divulgação de descobertas feitas na universidade, bem como a proteção da propriedade intelectual. A organização trata da parte burocrática do processo de licenciatura das inovações, além de divulgá-las uma vez que o pedido é aprovado. A disseminação desses projetos acontece tanto no ambiente comercial, quanto universitário. A gerente executiva e jurídica da AGI, Priscilla Ricci, explicou que é preciso reconhecer a relevância do trabalho acadêmico.
– Nós entendemos a importância de sensibilizar a comunidade da PUC sobre as tecnologias que são desenvolvidas aqui dentro. Também queremos que o público entenda a relevância dessas tecnologias, que buscam gerar impacto e trazer benefícios para a sociedade. Da mesma forma, esses eventos ajudam a apresentar o trabalho da AGI, que faz todo o processo de suporte para que as invenções sejam protegidas e possam chegar até o mercado. – afirmou Priscilla.
A patente apresentada pela vice-reitora para assuntos acadêmicos, Marley Vellasco, também visa melhorar a qualidade de vida de parte da população. O projeto envolve a criação de um andador robótico inteligente e surgiu como uma pesquisa de mestrado. A ideia inicial era desenvolver um andador automatizado de assistência a idosos, mas foi estendido para o uso de deficientes motores e visuais. O aparelho tem um controle inteligente, além de sensores de proximidade para obstáculos e desníveis de terreno. O andador ainda tinha como foco promover maior autonomia para os usuários, bem como o fortalecimento muscular e a prevenção de quedas.
A criação do protótipo e parte dos testes foram realizados na PUC. Com a concretização do projeto o grupo responsável procurou a assistência da Agência de Inovação da universidade para que pudesse patentear a invenção. Marley contou que já tinha patenteado softwares, mas foi a primeira vez que registrou a invenção de um aparelho. Durante a fala, a professora ainda destacou a importância do reconhecimento de propriedade intelectual. São dois os principais pontos a valorização da produção acadêmica e tecnológica dos alunos e professores, além do impacto na carreira dos participantes.
O professor e Vice-Reitor de Infraestrutura e Serviços da PUC-Rio, Luiz Fernando Martha, é o criador do Ftool (Frame Structural Analysis Tool), um software utilizado para calcular de forma simples e prática estruturas planas. Nos anos noventa, quando Martha era professor do Departamento de Engenharia, começou a desenvolver o software como uma ferramenta educacional para ajudar nas experiências em sala de aula. Segundo o engenheiro, o seu hobby após o expediente era trabalhar no aperfeiçoamento do programa.
O Ftool transbordou as paredes da casa de Martha e transformou-se em um projeto de pesquisa integrado, coordenado pelo professor Marcelo Gattas do Departamento de Informática da PUC-Rio. A cada versão nova, o programa evoluiu e se tornou um instrumento frequentemente aplicado em projetos executivos de estruturas profissionais. Com o auxílio da AGI na consultoria de marketing digital, Martha percebeu um crescimento exponencial de usuários do Ftool à medida que o software lançava uma nova versão. Ele conta que tentou vender a tecnologia diante do sucesso, mas nunca obteve o financiamento necessário.