Em 2009, após a implantação da Unidade de Polícia Pacifi cadora (UPP), os moradores do Morro da Babilônia, no Leme, passaram a dividir a vista privilegiada do alto do morro com turistas de diversos lugares do mundo. O empreendedor Alexandre Gentille,que mora na favela, percebeu a demanda e criou o Faveliving,uma agência de turismo de experiência na comunidade que agencia hospedagens nas casas dos moradores, em hostels, e organiza passeios na comunidade com guias turísticos locais. O negócio, que aos poucos toma forma, entra na agenda de pequenas e médias empresas do setor 2.5.
De acordo com o relatório sobre Sustentabilidade do Sistema de Inteligência Setorial do Sebrae/SC, 30% das empresas que buscam a instituição têm esse perfi l. O setor 2.5 ou negócios sociais são empresas que, além de visar ao lucro, têm o objetivo de minimizar um problema socioambiental das classes de baixo poder aquisitivo. É a união de empresas privadas e o impacto social das ONGs ou associações civis. Além disso, o empreendimento social não recebe nenhum tratamento diferenciado
do governo federal. E foi assim que Gentille, ao morar na comunidade, percebeu que poderia abrir um empreendimento social. Ele acredita que envolver os moradores da Babilônia é fundamental para que os próprios turistas se sintam parte da comunidade.
– Quando uma agência de fora traz os turistas para visitar a comunidade sem envolver o próprio morador, parece que eles estão visitando algo como um zoológico humano. Temos muitos pacotes para o estrangeiro ver que isso não é um zoológico humano – afirma.
O Babilônia Rio Hostel, que tem parceria com o Faveliving, é um exemplo. A publicitária Bianca Lima, 26 anos, e o marido, o alpinista Eduardo Figueiredo, 28 anos, decidiram transformar a casa dos pais dela em um hostel em 2013, quando eles perceberam que a implantação da UPP atraiu turistas para a região. Mas para isto, foi necessário fazer uma reforma no imóvel durante um ano. Na Copa do Mundo de 2014, a casa ficou lotada, com 42 estrangeiros. Bianca está otimista com os eventos que ocorrerão no próximo ano.
– Criamos um bar, alguns ambientes sociais, e tivemos que reformar a parte exterior da casa. Para o fim do ano e as Olimpíadas, nós esperamos lotação máxima – comenta.
Vinte e sete estudantes da Universidade de Utrech, na Holanda, vieram ao Rio de Janeiro estudar o efeito dos grandes eventos, como a Copa do Mundo e as Olímpiadas, e as políticas públicas na cidade. Para vivenciar as transformações no Morro da Babilônia, eles ficaram hospedados 49 dias no hostel de Bianca e Eduardo. Pieter, 21 anos, um dos estudantes, disse que foi uma experiência que ele não teria em outro lugar, mas reprovou o fato de as pessoas serem relaxadas.
– Vemos como é o dia a dia da comunidade, fizemos parte dela. Os moradores nos acolheram bem. Estar na Babilônia é olhar o Rio de uma outra ótica. Um ponto negativo é que os brasileiros não são muito pragmáticos, “amanhã eu faço,espera, espera” – brinca.
O impacto econômico positivo também é sentido pelos moradores, e nem a barreira linguística se torna um impedimento quando o assunto é vender. Denise, 34 anos, dona de um bar na subida da entrada da Babilônia, conta que não entende o que eles falam, mas que isso não é impedimento para a venda.
– Eu não sei inglês. A venda é feita com mímica. E o benefício é mútuo. Eles conhecem a comunidade e compram com os moradores, que lucram mais.
A professora do Instituto Gênesis Ruth Mello acredita que os negócios sociais são uma tendência em um mundo onde crescer com sustentabilidade e pensar no lado social é importante.
– As empresas privadas têm que se preocupar com o lado socioambiental. Assim, o empreendedor social se encaixa no mercado ao trazer essa preocupação para o centro da empresa, e não como consequência.