Os legados ético-religiosos de uma Jornada Mundial da Juventude
Padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J.
Padre Josafá Carlos de Siqueira, S.J., lembra o valor da Jornada Mundial da Juventude. Entre os legados do evento, estão a memória guardada pelos jovens participantes e a busca pela profundidade na fé, além de ser um momento de encontro fraterno e de intercomunhão.
Criada em 1985 pelo Papa João Paulo II, a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) vem ocorrendo regularmente na Igreja Católica, reunindo milhares de jovens que partilham sua fé, suas esperanças e seus valores. Mais do que um turismo religioso, um evento passageiro ou um acontecimento de massa, a JMJ tem deixado na vida das pessoas, legados éticos, religiosos e espirituais. Deixando de lado as avaliações passadas sobre a infraestrutura, os gastos, a complexa logística e outras coisas que fazem parte dos macroeventos, cremos que o mais importante é avaliar aquilo que a JMJ toca, provoca e transforma a vida das pessoas. As análises dos relatórios das várias Jornadas, que ocorreram em diferentes países, mostram que as mesmas deixaram legados que vale a pena sublinhá-los no presente artigo.
O ponto de partida é a memória singular e inesquecível do evento, pois este fica marcado para sempre na vida dos jovens, pois as viagens, as experiências e o sacrifício pessoal, são alimentados pela fé que supera as vicissitudes e abre-se para uma dimensão mais transcendente da existência. As JMJ são marcadas por buscas, desejos, encontros, vivências e experiências. No fundo, existe uma busca da verdade para dar sentido à vida, expressa numa procura de Deus. Busca-se também uma profundidade na fé, o que é extremamente positivo, sobretudo num mundo cheio de superficialidades e banalidades. Ao participar de um evento desta magnitude, os jovens desejam ouvir, aprender e serem enviados para realizar uma missão, pois são conscientes de que podem agregar valores, ajudando a mudar o mundo com a vida e o testemunho. A palavra de Jesus Cristo: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho”, é sem dúvida a que mais ecoa na mente e no coração dos jovens, pois eles desejam ser voluntários do Senhor para a realização dos ideais do Reino de Deus.
Além da memória, das buscas e dos desejos, a JMJ é um momento de um encontro fraterno e de uma intercomunhão solidária. Aproximam-se as diferenças de raças, línguas, crenças e cores, permitindo compartilhar a vida e chegar mais próximo das lideranças religiosas, como o Papa e os Bispos, numa relação da pluralidade com a unidade. Estes encontros possibilitam vivências e experiências. Pela carga de conteúdos religiosos nas catequeses e celebrações, a vivência da JMJ tem uma profundidade axiológica, pois alguns valores ético-religiosos como a fé, a justiça, a solidariedade, a paz, a fraternidade, dentre outros, são permanentemente explicitados durante o evento, alimentando as buscas e os desejos de milhares de jovens. Finalmente, um legado espiritual da JMJ que não pode ser esquecido é a experiência religiosa, pois esta é extremamente importante para abrir os caminhos para uma experiência mais profunda de Deus no decorrer da vida. As catequeses, as celebrações, as vigílias, as vias-sacras, as caminhadas, a austeridade, os gestos de amor etc, possibilitam uma experiência eclesial e comunitária, favorecendo aquilo que constitui a koinonia, a explicitação da fé no modo verdadeiro de ser cristão. Este testemunho é fundamental, sobretudo para fazer frente ao individualismo moderno, que muitas vezes prescinde da dimensão comunitária e solidária da fé.
Que todos estes legados deixados por outras JMJ possam ser vividos e vivenciados na Jornada que realizaremos no Rio de Janeiro em 2013, sobretudo neste momento eclesial onde a dimensão pastoral, carismática, simples e comunicativa do Papa Franscisco tem atraído a admiração de todos.