O meio ambiente é seu: cuide dele
11/06/2007 19:00
Ana Terra Athayde e Clarice Tenório

A XIII Semana de Meio Ambiente, realizada entre os dias 29 de maio e 1 de junho, apresentou resultados de relatórios, como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), além de alternativas para solucionar o aquecimento global. O JORNAL DA PUC foi conhecer de perto os trabalhos de conscientização realizados pelos projetos Unicom e Jornadas Ecológicas.

 

O crescente número de relatórios e estatísticas sobre as mudanças climáticas tem chamado a atenção de especialistas e da população. Segundo recente pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 68% dos entrevistados acreditam que o aquecimento global deve ser combatido por todos e imediatamente. Com o apoio do Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente (Nima), alunos de diversos cursos de graduação promoveram a XIII Semana de Meio Ambiente, entre os dias 29 de maio e 1 de junho. Palestras e oficinas, entre outras atividades, proporcionaram o debate sobre questões ecológicas e a apresentação de possíveis soluções. O relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) apontou que as tecnologias existentes podem evitar os piores efeitos das mudanças climáticas provocadas pelo consumo humano desenfreado, com ações imediatas. De acordo com o jornalista André Trigueiro, o desafio, principalmente das universidades, é reinventar o sistema. "Deve-se suprir as demandas de forma sustentável. Não precisamos reduzir a produção, mas fazer ajustes com a eco-eficiência", disse ele.  

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Flores e árvores na Vila Olímpica

À primeira vista, quem conhece a Vila Olímpica Clara Nunes, em Acari, acredita que o espaço é destinado unicamente à prática de esportes. Ao entrar no ginásio e encontrar, em vez de bolas de basquete ou vôlei, um longo "tapete floral", o visitante percebe que também é possível participar de atividades ecológicas. A "obra" fez parte da comemoração do início da Semana do Meio Ambiente, no dia 31 de maio, numa grande festa que atraiu centenas de crianças, muitas delas acompanhadas por seus pais. Foi realizado, ainda, o plantio de árvores, que contou com a participação do Vice-Reitor padre Josafá Siqueira.

A PUC se tornou co-gestora da Vila Olímpica, numa parceria com a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer, em 2005. A partir desta data, foi criadoo Projeto Jornadas Ecológicas, que consiste em trabalhar a educação ambiental com as crianças de escolas públicas que freqüentam o espaço. Elas são levadas, uma vez por semana, ao campus da Universidade, onde é realizado o trabalho de conscientização.

Pe. Josafá, professor Roosevelt e crianças
participam de plantio simbólico

– O programa não se restringe ao campus. Realizamos diversas oficinas, como de reciclagem, e hortas comunitárias, nas próprias escolas. Quatro estagiários da PUC monitoram os alunos e auxiliam o trabalho. A educação ambiental é realizada de uma forma holística, pois é muito importante que se tenha uma visão do todo, explicou Roosevelt Fidelis de Souza, coordenador do projeto.

Na Vila Olímpica, que funciona de terça a domingo e tem mais de cinco mil cadastrados, temas como a preservação do meio ambiente, além de saúde e higiene, são trabalhados mensalmente pelos profissionais. Alunas da Escola Municipal Érico Veríssimo, Beatriz Araújo e Tamires Ferreira, ambas de 8 anos, disseram adorar o que aprendem na Vila. Lá elas fazem aulas de judô e natação, duas vezes por semana, além de já terem passado pela PUC para aprender sobre ecologia.

– As Vilas Olímpicas surgiram em 2001, numa iniciativa da prefeitura de promover a educação integral. As crianças não precisariam ficar nas escolas o dia inteiro, pois o processo educacional aconteceria em diferentes espaços, explicou Gustavo Cintra, Secretário Municipal de Esportes e Lazer.

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Entrevista: Emilio La Rovere – Relatório aponta tecnologia como aliada

O que pode e está sendo feito no mundo para conter o aumento do efeito estufa foi discutido em palestra de Emilio La Rovere, co-autor de diversos relatórios científicos do Painel Intergovernamental em Mudança do Clima da ONU (IPCC). Formado em engenharia elétrica pela PUC em 1975, o ex-aluno participou da Semana do Meio Ambiente com explicações de como é a produção do painel. Na entrevista, La Rovere mostra como a tecnologia pode ser uma aliada nesta luta.

JORNAL DA PUC: No Brasil, quais medidas poderiam ser tomadas por governos e indivíduos para diminuir o aquecimento global?
Emilio La Rovere:
Em primeiro lugar, empregar maior eficiência no uso da energia: investir nos transportes coletivos de massa. No transporte de cargas, um maior investimento em ferrovias e hidrovias, e não em rodovias, é uma solução. Nas residências, deve-se fazer o uso mais eficientes dos eletrodomésticos. Já existe uma lei nacional de eficiência energética, na qual o congresso autoriza o governo a fixar padrões de eficiência, que devem ser cada vez mais rigorosos. Além disso, na parte de energias renováveis, vale estimular o uso de biocombustíveis, como o álcool da cana e o biodiesel de óleo vegetal, de forma sustentável, naturalmente. E, evidentemente, combater o desma-tamento da Amazônia.

JP: O que já é feito no Brasil?
La Rovere:
Já tem muita coisa na parte de biocombustíveis, o governo e as indústrias estão investindo nesta área. No combate ao desmatamento, o Brasil conseguiu marcar alguns pontos e precisa continuar e aprofundar isso. A área de eficiência enérgica ainda carece de regulamentação da lei e de uma atuação mais efetiva. Temos que retomar o apoio às fontes alternativas de energia.

JP: Quais tecnologias existentes no país podem ajudar na ação consciente com o meio ambiente?
La Rovere:
Os biocombustíveis, uma gama de produtos mais eficientes, como geladeiras e veículos... A gente pode induzir a indústria a colocar esses produtos de qualidade no mercado, com taxas e incentivos. A idéia seria encarecer os produtos e as tecnologias que causam emissões e, ao contrário, contribuir para tornar mais acessíveis os que poluem menos.

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Entrevista: Valter Fachini – O que são biodigestores?

As bactérias que vivem no esgoto se multiplicam rapidamente no ambiente fechado. Elas se alimentam dos nutrientes que existem na matéria orgânica de excremento e o resultado é o gás metano, que é combustível. O ciclo faz parte do sistema biodigestor, fruto de estudo e implantação da ONG O Instituto Ambiental, de Petrópolis. Valter Fachini, diretor-executivo da ONG, aponta o biodigestor como um sistema três em um: saneia o ambiente, produz energia renovável e melhora a qualidade do solo.

JORNAL DA PUC: Como funciona o sistema de biodigestores?
Valter Fachini:
O biodigestor é uma câmara hermeticamente fechada. A parte sólida fica no fundo, a parte líquida no meio e o biogás fica na cúpula. O biogás é retirado diretamente para o consumo, ou em cozinha ou para gerar energia em motor, por exemplo.

JP: Quais as principais vantagens do sistema?
Fachini:
O biodigestor é como um três em um. Tem a vantagem de sanear o ambiente – ele consegue reduzir de 60 a 70% direto na primeira unidade do tratamento primário –, ele produz energia renovável e mineraliza nutrientes que, uma vez reciclados, podem recuperar solos degradados e melhorar a qualidade do solo.

JP: Quais os empecilhos hoje para a aplicação do sistema de biodigestores em grande escala?
Fachini:
O empecilho maior já está eliminado, que era o preconceito contra uma energia com base na biomassa. Hoje a própria Petrobras a utiliza nos seus processos. As grandes indústrias de energia estão incorporando a biomassa no seu dia-a-dia, com visão do futuro. A energia vai ser proveniente muito mais de fontes renováveis do que da matriz do petróleo.

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Quantas árvores você deveria plantar por ano? 

O grupo The Green Initiative (Iniciativa Verde, www.iniciativaverde.com.br) oferece em seu site uma "calculadora de gás carbônico (CO2)", que faz uma estimativa da taxa anual de emissão do gás por pessoa. Com dados fornecidos pelo usuário, é apresentado o número de árvores que deveriam ser plantadas para contrabalançar a emissão. Fizemos o teste com uma aluna da Universidade.

Luciana Mendes, aluna do 9º período de Direito, deveria plantar 22 árvores por ano!
A estudante mora com a mãe e o irmão na Tijuca. Nos fins de semana, costuma ir ao cinema e a barzinhos com amigos. Duas vezes por mês ela vai com a família para Itaipuaçu, em Maricá, de carro (motor 1.8). Luciana só anda de ônibus durante a semana: seu trajeto inclui a ida à PUC, ao estágio, no Centro, e sua volta para casa. De acordo com o resultado indicado pela calculadora, suas atividades são responsáveis pela emissão anual de 3,26 toneladas de CO
2.

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Óleo usado ganha destino mais 'limpo'

Turma produz cartaz para
reciclagem de óleo
Os onze alunos da turma de alfabetização de adultos, do Projeto Unicom, não estão de fora das discussões sobre o meio ambiente. Os estudantes, aposentados e trabalhadores, lançaram uma campanha de reciclagem de óleo na Comunidade Parque da Cidade, onde vivem. As aulas do mês de maio foram dedicadas ao tema e, após a leitura de reportagens e panfletos, incentivados pelos professores – todos alunos da PUC – eles resolveram que podem e devem fazer alguma coisa para ajudar a não poluir a água.

Cartazes estão sendo produzidos e, após conseguirem juntar os primeiros cem litros de óleo, com vizinhos e estabelecimentos comerciais da redondeza, os alunos já sabem para onde ligar, o Disque Óleo Vegetal Usado (2260-3326 / 7827-9446), uma empresa de Duque de Caxias que recicla o produto aparentemente inutilizado e o vende para fábricas de sabão. De uma matéria lida em sala, as idéias para a campanha surgiram. O texto contará com explicações que a turma sabe de cor. "O óleo entope a tubulação e polui as nossas águas", ensina Maria Percília Santos. "Para ajudar tem que guardar o óleo usado em um pote e levar até a associação de moradores, para despejar em um galão, que vai ser recolhido", esclarece Milton Emídio. "Cada um deve fazer a sua parte para que nossos filhos e netos possam ver a beleza da natureza", defende Guilherme Amorim.

Cada litro de óleo despejado na água contamina cerca de outro um milhão de litros. O país já conta com alguns projetos de reaproveitamento de óleo, que pode ter um destino útil e eco-sustentável. As indústrias de sabão, detergente, ração animal e biodiesel necessitam da matéria-prima, indispensável para grande parte das famílias brasileiras, e tão poluente quando descartada sem cuidado.

 Edição 187