Grandes nomes da comunicação esportiva participaram do “Seminário de Comunicação Esportiva”, organizado pelo professor Alexandre Carauta, do Departamento de Comunicação, de 12 a 14 de setembro. O primeiro dia do encontro reuniu profissionais e alunos para conversar sobre transformações no cenário da comunicação. Gustavo Poli, diretor de Programas e Conteúdo Digital do Esporte no Grupo Globo, abordou assuntos como a mudança na forma de consumir esporte e os novos desafios do jornalismo esportivo. Ele também lembrou de seu período como aluno da PUC-Rio e estagiário do projeto Comunicar. Além dele, os jornalistas Sidney Garambone e Gustavo Gomes, que dirigiram o documentário “Galvão: Olha o que ele fez”, para o Globoplay, refletiram sobre a função do jornalista como contador de histórias e sobre o impacto do streaming no gênero documental.
Gustavo Poli discutiu a mudança recente que ocorreu na maneira de consumir esporte e a ascensão de influenciadores e produtores de conteúdo de nicho, como o Casimiro. O jornalista citou o trabalho inovador realizado pela CazéTV durante a cobertura da Copa do Mundo de 2022. O diretor de Programas ressaltou que esta realidade mais ampla do mercado é bastante distinta da encontrada por ele quando começou a carreira. Atualmente, na opinião dele, um produtor de conteúdo pode se sustentar através da internet se tiver qualidade e encontrar seu público.
Sidney Garambone recordou a época em que foi estudante do curso de Comunicação. Segundo o jornalista, anteriormente, a estrutura era baseada no tripé: rádio, TV e jornal, bem definido. Hoje, não existe mais essa divisão, mas uma interdisciplinaridade na maneira de consumir e produzir conteúdo jornalístico. Tudo mudou drasticamente. Em uma cobertura, Garambone aconselhou ouvir outros lados, sair da zona de conforto e procurar explorar temáticas diferentes. Aos futuros jornalistas, disse que é preciso ter espírito crítico, duvidar e sempre pesquisar sobre assuntos diversos.
Em relação ao perfil do consumo de esporte no Brasil, Poli explicou que o país vive uma “monocultura do futebol”, fato que pode ser percebido pela forte presença do esporte na programação do SporTV. Ele citou ainda que, mesmo com o crescimento do interesse dos consumidores por outras modalidades, a audiência de programas sobre futebol e até mesmo de partidas da Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro ainda é bem maior do que partidas de basquete e futebol americano. O motivo está na capacidade do futebol em reter a atenção das pessoas por muito tempo, algo que não acontece com os esportes americanos.
Em meio à mudança na forma de consumir esporte, Poli afirmou que uma empresa de mídia tradicional como a Globo utiliza sua credibilidade e reputação no meio jornalístico. Além disso, aprofunda conteúdos para manter seu público e se diferenciar dos novos agentes do mercado. O desafio é oferecer qualidade e saber lidar com as novas formas de consumo, tendo em vista que nas redes sociais, o produtor possui “tempo infinito”.
O diretor Gustavo Gomes acredita que o jornalista é um fazedor de memória e está produzindo histórias a todo momento. Segundo ele, cada meio possui uma forma de se comunicar e de ser consumido. O streaming e o YouTube representam vertentes mais imediatistas. Ele exemplificou esta característica ao citar a mudança estrutural no gênero documental. O documentário deixou de ser algo artístico e passou a ser um produto de consumo de massa no streaming. Para Gustavo, ser o narrador de tantas histórias é uma grande responsabilidade porque afeta diretamente a vida dos personagens e daqueles que consomem o conteúdo.
Sobre o futuro do jornalismo esportivo e da configuração do mercado, Poli explicou que a função de um profissional desse meio - mistura de entretenimento e informação - é contar histórias. Para ele, a verdadeira inovação na área ocorrerá na forma de contar essas histórias, e que isso poderá ser feito com auxílio da tecnologia. Sobre a configuração, o diretor da Globo relatou acreditar que o jornalismo esportivo continuará a ter seu papel, mas pensa que o mercado tende a se tornar fragmentado, com vertentes e públicos específicos.
Por fim, o funcionário do Grupo Globo aconselhou os alunos a aproveitarem o período da faculdade e as oportunidades que aparecerem.
— Eu já tinha vindo outras vezes na PUC e sempre acho um barato, mas desta vez foi especial pois fazem 30 anos que eu me formei. Olho para os alunos e para o busto do Kennedy, e parece que o tempo não passou, não ironicamente.