O Decanato do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH) promoveu o XVIII Encontro do Grupo de Pesquisa Textualidades Contemporâneas: Processos de Hibridação, que ocorreu no Edifício Leme, na PUC-Rio. Em parceria com a Universidade de Brasília (UnB) e financiado pelo CNPq, a reunião abordou o tema “Utopia e Distopia: crises e desafios na América Latina”, e contou com a participação de professores da casa e convidados de outras universidades.
A professora do Departamento de História da PUC-Rio Maria Elisa Noronha de Sá apresentou a pesquisa que fez sobre a mestiçagem na América Latina no final do século XIX, embasada principalmente pelos estudos do teórico Sílvio Romero. Maria Elisa enxerga a mestiçagem como uma utopia, termo cunhado por Thomas More no livro homônimo, de 1516, que se refere à ideia de uma sociedade perfeita. Ao contrário de Romero, a professora percebe a mistura como um fator positivo, parte essencial da sociedade brasileira.
— A mestiçagem é um conceito problemático. Hoje as pessoas relacionam essa ideia a um apagamento das identidades, pressupondo a presença de raças que não existem. Precisamos trazer este tema de volta para falar sobre uma população brasileira que é mestiça desde sempre.
A professora do Departamento de Educação da PUC-Rio Mylene Mizhari, coordenadora do laboratório de pesquisa etnográfica em cultura pop, estética e aprendizagem Estetipop, fez um estudo sobre a evolução dos cabelos, penteados e da moda de pessoas negras. Mizhari apontou que cabelos afros costumavam ser usados apenas por ativistas, mas hoje se colocam como forma de “afirmar uma raça”, isto é, expor orgulho pelos traços negros. Relatos do preconceito sofrido por pessoas adeptas a estética afro retratam a realidade desconcertante da população negra na luta por ter a beleza reconhecida.
— A pesquisa apresenta formas distintas de reivindicar a negritude. O modo mais presente hoje é de produzir uma aparência evidentemente não-branca, provocando uma denúncia explícita do racismo. Só que eu não compactuo com a visão de que os cabelos alisados ou relaxados buscavam embranquecer a raça. Vejo como modos de circulação possíveis pelo espaço público brasileiro, que cria a possibilidade de se colocar de formas diferentes.
A pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) e professora da Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT), Elizabete Barros, aprofundou-se no percurso literário de autores do feminismo decolonial, corrente de intelectuais não-brancas que se propõe a lutar contra a desigualdade racial e de gênero. Barros fez referência ao caso da escritora Conceição Evaristo, a primeira mulher negra a se candidatar para uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL). A derrota dela pelo cineasta Cacá Diegues, que ocupou a vaga na instituição, foi vista por Elizabete como um exemplo de que as editoras e sociedades literárias não oferecem suporte para escritores negros.
— Ainda há um percurso amplo que envolve a inserção nesse mercado. É preciso atualizar quem está dentro das grandes editoras e a política editorial. Faz parte de um processo inclusivo, que os negros lutam a bastante tempo, pelo mercado de trabalho e por acesso a mais espaços. Academia Brasileira de Letras é reflexo de uma elite dominante.
O Decano do CTCH, Júlio Diniz, ocupa a posição de vice-líder do Grupo de Pesquisa Textualidades Contemporâneas UnB/CNP. Organizador do evento, Diniz afirmou que a PUC-Rio trabalha em tópicos raciais que envolvem tanto o ambiente interno da universidade, ao promover debates com professores, alunos e funcionários, quanto com ações fora do campus, por meio de projetos de extensão realizados nas comunidades.
— Somos uma instituição completamente aberta à distinção de raça, de gênero e socioeconômicas. A PUC sempre foi uma universidade que se pauta pela pluralidade. Esse seminário é importante para despertar outras discussões dentro e fora do instituto.