Transição energética e descarbonização
09/08/2024 17:13
Gabriela Araujo e Thais Helena Andrade

Novidades e desafios sobre o setor foram discutidos na PUC-Rio

Palestra Latin American Energy Economics Meeting - ELAEE. (Foto: Matheus Santos)

A 9° edição do Latin American Energy Economics Meeting - ELAEE, com apoio do Instituto de Energia da PUC-Rio - IEPUC, foi sediada na Universidade e abordou a transição de energia no mercado latino-americano e os caminhos para a descarbonização no setor industrial. O encontro foi dividido em plenárias de discussões com o intuito de buscar alternativas para a diminuição dos impactos do uso de combustíveis fósseis nos meios de transporte e no setor energético, abordando sistemas de energia renovável.

Temas como Transição Energética e Mercados Energéticos Latino-Americanos, Caminhos para a Descarbonização do Transporte e Integração de Sistemas de Energia Renovável Variável foram tratados por professores e pesquisadores de Universidades brasileiras e estrangeiras, profissionais do Governo, Organizações e empresas do setor. Na ocasião, a transição de energia foi apontada como uma oportunidade de desenvolvimento para a América Latina, divulgando os recursos e ferramentas existentes na região que estão sendo pesquisados em diferentes partes do mundo para melhor integração da crescente demanda por energia com o desenvolvimento sustentável da sociedade como um todo.

A mesa de abertura do Encontro teve como palestrantes o professor e pesquisador do IEPUC, Edmar de Almeida; a Profª. Anne Neumann, diretora de pesquisa da Norwegian University of Science and Technology - NTNU e presidente da Associação Internacional de Economia da Energia - IAEE; Guido Maiulini, chefe de gabinete da Latin American Energy Organization - OLADE; Maurício Tolmasquim, diretor de transição energética da Petrobras; e Ralf Dickel, pesquisador visitante do The Oxford Institute for Energy Studies.

Palestrantes do evento. (Foto: Matheus Santos)

A Profª. Anne Neumann falou sobre descarbonização e eficiência econômica sob o ponto de vista europeu, assim como o pesquisador Ralf Dickel, que comentou sobre gráfico de emissão global de gás carbônico (CO2) por região, per capita e por crescimento, envolvendo diferentes partes do mundo. Guido Maiulini, por sua vez, ressaltou a necessidade de criação de políticas públicas de financiamento em energia de transição na América Latina como forma de acelerar a pesquisa na região.

No âmbito local, Maurício Tolmasquim salientou que a Petrobras objetiva manter sua emissão de CO2 estável, investindo cerca de US$ 11 bilhões em pesquisas sobre transição energética justa e baixo carbono, pesquisas estas envolvendo a energia solar, a energia eólica, o gás natural, o hidrogênio, assim como a produção de óleos vegetais.

Durante a participação na Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU) - COP 28, realizada em 2023 em Dubai - EAU, o Brasil se comprometeu perante a comunidade internacional a ajustar suas metas climáticas, realizar investimentos na pesquisa e desenvolvimento de energias renováveis, reduzir o desmatamento até 2030, bem como auxiliar na descarbonização do planeta e promover uma transição energética justa e inclusiva. Sobre os prazos estipulados pela país, o Prof. do IEPUC, Edmar de Almeida, ressaltou que, atualmente, há uma convergência em relação às metas, ainda sem previsão de quando conseguirão atingi-las:

– As políticas de transição energética estão sendo construídas agora e não existe uma receita pronta. Existe um processo de tentativa e erro e a diferença que  existe entre os países é a vontade política e os recursos que eles estão colocando nessas políticas. Então a Europa, até porque eles importam muita energia fóssil, tem uma vontade política muito grande e tem colocado muito dinheiro na promoção da transição energética. Mas não existe, vamos dizer assim, uma receita definida e, portanto, não existe também garantia do que vai dar certo. Os países estão, ainda, convergindo em termos das metas, mas como implementar esse objetivo, ainda há muita incerteza. Então, nesse momento, é difícil dizer se o Brasil vai conseguir atingir suas metas. Em geral, a trajetória da transição energética não está seguindo a ambição da transição energética em todos os países, inclusive no Brasil.

A respeito da Integração de Sistemas de Energia Renovável Variável e seus desafios para operação e armazenamento, Isaac Dyner, da Universidad de Bogotá Jorge Tadeo Lozano  – UTADEO mediou o debate, o qual contou com a participação do professor da PUC-Rio,  Alexandre Street; Francisco Javier Ramos Real,  da Universidad de La Laguna; Ramón León, da  Interconexión Eléctrica S.A. (ISA) e Rahmat Poudineh, do The Oxford Institute of Energy Studies.

O Prof. Street falou sobre os desafios do plano de transição de energia, usando de exemplo inicial as Ilhas Canárias como modelo de plataforma para apontar que os custos do sistema de energia elétrica para 2030 seriam muito altos, apesar da introdução da produção de sistemas energéticos baseados em energia renovável, ao apresentar dados estatísticos da previsão deste 2024 até 2040.

As mudanças que querem implementar visam prover eletricidade a baixo custo para consumidores, enquanto fazem a transição para uma energia sustentável. No entanto, para que isso ocorra é preciso a atualização dos modelos presentes, ou seja, das plataformas que entregam os elementos mais relevantes usados no mercado de energia.

Ramon Leon, da ISA, apontou em sua explanação que a transição energética é um típico caso de difusão da inovação e que a velocidade da adoção de energia solar está superando todas as previsões. Com isso, também reforçou que a transição energética tem gerado mudanças aceleradas na indústria, assim como citou que uma das estratégias é analisar a variedade regional, trazendo como exemplo a Colômbia e sua relação crescente de energia solar.

O pesquisador Rahmat Poudineh, por sua vez, falou sobre as implicações da exposição de risco para os participantes do mercado. De uma perspectiva geral, grande parte do impacto financeiro relativo ao gerenciamento do risco de base pode ser repassado aos consumidores; seu apoio a iniciativas de energia renovável pode ser influenciado pela percepção do quão bem esses sistemas são gerenciados.

A respeito da mobilidade sustentável e os caminhos possíveis para a descarbonização no setor de transporte da América Latina, palestraram no respectivo painel o advogado Raphael Paciello, engajado em transações envolvendo energias renováveis e captura de carbono; Bruno Stukart, economista na Empresa de Pesquisa Energética - EPE, vinculada ao Ministério de Minas e Energia; Gürkan Kumbaroglu, Vice Reitor e professor de Engenharia Industrial da Universidade de Bogaziçi - Instanbul/Turquia; Márcio D’Agosto, professor e pesquisador do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro(COPPE - UFRJ); e Sérgio Braga, professor do Departamento de Engenharia Mecânica da PUC-Rio.

Bruno Stukart declarou na oportunidade que o Brasil, por ser um país abundante em recursos naturais, é potencial criador de soluções energéticas envolvendo as energias solar e eólica, assim como o etanol, a biomassa, etc, pois o investimento na eficiência energética ajuda a reduzir a demanda por petróleo. Em complemento, o Prof. da PUC-Rio Sérgio Braga explicou que 32% da energia primária utilizada no mundo atualmente provém de combustíveis fósseis, principalmente o petróleo, enquanto as energias renováveis representam apenas 12% de todo o uso.

O Prof. Gürkan Kumbaroglu, por seu turno, falou sobre as iniciativas europeias a respeito dos combustíveis, incluindo pesquisas em carros elétricos movidos a energia elétrica, hidrogênio e híbrido. Nesse ponto, destacou que os principais desafios para a eletrificação da frota são o preço da energia e a elaboração de infraestrutura para o carregamento. Sobre o tema, o Prof. da UFRJ, Márcio D’Agosto, comentou sobre a realidade brasileira, salientando que 40% da frota nacional utiliza diesel, o que é um problema, inclusive de ordem econômica. Como alternativa, o professor destacou que os meios de transporte de uso coletivo representam um aumento da eficiência do uso energético do setor.

Sobre a importância de a PUC-Rio ser a sede escolhida para o encontro, o Prof. Edmar de Almeida destacou a oportunidade que a Universidade teve de demonstrar à comunidade dos economistas de energia o seu engajamento científico na área:

– Esse evento é muito importante porque permite apresentar a PUC-Rio, seus  professores e pesquisadores, para uma comunidade que já está muito bem organizada e estabelecida, que é a comunidade dos economistas de energia. É uma comunidade internacional, uma associação presente em mais de 100 países. Então essa comunidade passa a conhecer o que é a PUC-Rio e conhecer que a PUC-Rio está engajada na área de energia, que tem projetos, que tem uma inteligência grande nessa área. Então isso é muito positivo para a PUC-Rio.

Em um panorama geral concluiu-se que trazer esse tipo de discussão para o âmbito acadêmico é relevante e necessário para conscientizar as pessoas e aprimorar o desenvolvimento das pesquisas que vêm sendo desenvolvidas no setor energético, o qual representa potencial de amplificação das economias Latino-Americanas.

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