A Amazônia é o maior repositório de biodiversidade no mundo. A floresta conecta oito países e é responsável por um em cada cinco copos de água disponíveis para consumo. A importância do bioma fez com que a PUC-Rio elaborasse o projeto de pesquisa “Amazonizar”, em 2023. O novo passo da Universidade foi o I Congresso Internacional de Extensão Universitária PUC-Rio: Desafios Complexos, entre 19 e 21 de junho. Dele participaram, por exemplo, a copresidente geral da Critical Edge Alliance, Mary Watson da The New School (NY); os representantes da PUC-Rio na CEA, as professoras Roberta Portas e Daniela Vargas e o professor Ricardo Amorim; a Vice-Reitora de Extensão e Estratégia Pedagógica PUC-Rio, Jackeline Farbiarz; e a representante estudantil da CEA, Hannah Farbiarz.
Realizados em conjunto com a Conferência Anual Critical Edge Alliance (CEA) 2024, os encontros, ressaltaram o protagonismo da região para os rumos do Brasil e do planeta, especialmente no combate ao aquecimento global. A Floresta Amazônica impacta diretamente o clima do país e do mundo. Preservá-la constitui um esforço primordial para frear os fenômenos extremos cada vez mais frequentes, apontam especialistas reunidos nos debates promovidos pela Vice-Reitoria de Extensão e Estratégia Pedagógica.
Alinhada à necessidade de integrar saberes, tecnologias e experiências de preservação ambiental, a iniciativa conectou pesquisadores de vários países empenhados em refletir os desafios da sustentabilidade no cenário mundial. Ao longo de três dias, participaram de palestras, oficinas e até atividades artísticas. Na abertura do congresso, o Reitor da PUC-Rio, padre Anderson Antônio Pedroso, S.J., salientou a influência da Floresta Amazônica para o ecossistema nacional. Ele enfatizou também a importância de esforços plurais para preservá-la, de maneira a reduzir a incidência e os impactos de tragédias como as enchentes que assolaram o Sul, em maio:
— Os rios aéreos da floresta provocam chuvas aqui [no Sudeste]. A Amazônia está no Rio, na Gávea, na PUC. O bioma está vivo e nos mantém vivos. Amazonizar é o método de ouvir, de pés descalços para, aprender. O mito, o rito e o grito da floresta tem que ressoar no coração dos estudantes e professores da PUC-Rio.
O Amazonizar guiou os debates e as palestras. Para a Vice-Reitora de Extensão e Estratégia Pedagógica PUC-Rio, Jackeline Farbiarz, o projeto sintetiza “a solidariedade da instituição”. Ela acredita que “pensar a Amazônia como verbo é deixar de ver apenas tragédias e começar a ver escolhas”. Já a professora Roberta Portas considera o Amazonizar “uma experiência de reflexão e aproximação com a realidade”:
— A extensão deve ser uma via de mão dupla entre saberes originários e universitários.
A CEA reúne oito Universidades de quatro continentes. Constroi, assim, uma comunidade global de aprendizagem e pesquisa a partir de ideais como: pensamento crítico, participação democrática, empatia sócio-cultural, colaboração entre instituições de ensino e a sociedade. A copresidente Mary Watson lembra que a educação “deve ser embasada nas verdadeiras vivências e desafios dos estudantes”. Por isso, reitera, “o compromisso da aliança é trabalhar principalmente com os jovens, que vão herdar o planeta”. Um compromisso que se articula às urgências climáticas:
— Nós nos importamos com a equidade, a saúde mental e a justiça social. Queremos que os jovens se sintam esperançosos em um mundo que parece desesperançoso. Até o clima, que parece algo fora de controle e irregular, está agindo como projetamos que fosse agir. As mudanças climáticas são resultado de uma série de escolhas.
Além dos trinta trabalhos apresentados no Salão da Pastoral Universitária e em salas de aula durante o congresso, reflexões sobre sustentabilidade permearam palestras como “Comunidades ribeirinhas: Atividade Extensionista Interinstitucional entre Universidade". O debate foi impulsionado por vídeo no qual universitários extensionistas de diversos países relatam experiências com comunidades ribeirinhas e indígenas. No tempo que passou com o povo Sateré Mawé, Hannah Farbiarz conta que foi curada por pagé, comeu formigas, nadou com jacarés. A vivência permitiu que a jovem aprendesse costumes e desafios dos povos originários, principalmente os relacionados a direitos humanos:.
— Se nós brancos acharmos que somos os salvadores do mundo, não vamos a lugar nenhum. Precisamos ouvir o que eles têm a dizer. Os indígenas não são respeitados. Eles são dignos do mínimo, que é viver bem. É mais do que uma luta por território, é uma luta por direitos.
Hannah destaca o trabalho de Padre Oziel com a população indígena. Além das funções eclesiásticas, ele leva demandas da comunidade para autoridades de Manaus. Incluem desde, por exemplo, implementos para o centro médico — no qual, de acordo com a estudante, falta até agulha — ate professores para escolas locais. estão sem professores.
A necessidade da capacitação de lideranças especializadas em direitos humanos estimulou o desenvolvimento do Programa Universitário Amazônico (PUAM) fosse criado. O diretor e fundador do PUAM, Mauricio López, explicou, na palestra “Programa Extensionista na Amazônia”, que o organismo eclesiástico-episcopal foi criado para promover um projeto universitário voltado à Amazônia. Segundo ele, “a destruição dos direitos na Amazônia, seja da floresta ou da população, fragiliza toda a sociedade”. Por isso, acrescenta López, “é importante pensar como o problema e a realidade da Amazônia está ligado com outras realidades”:
— A perspectiva espiritual é muito importante. A conexão com a terra e de uns com os outros é a solução para conectarmos pessoas de locais tão diferentes. É necessário reconhecer a territorialidade e, o reconhecimento da interconectividade mostra como devemos trabalhar juntos — enfatiza.
Coloração foi a palavra-chave da reunião “Critical Edge Alliance: Desafios Futuros”, na qual membros da CEA discutiram os passos seguintes da organização, inclusive o encontro de 2025, marcado para Evergreen State College, em Washington (EUA). A professora da Universidade Kristina Ackley adiantou que a próxima conferência vai agregar debates que “não só desconstruam ideias do colonialismo, como também reconstruam algo novo no lugar”.