O Brasil pode se tornar um dos principais países no mercado do hidrogênio verde, projetam especialistas que participaram do 9º Encontro Latino Americano de Energia, em julho, na PUC-Rio. A previsão esbarra, contudo, ainda no alto custo de produção desta fonte renovável. O economista e professor Winston Fritsch, um dos integrantes do painel Hidrogênio de Baixo Carbono: Hubs de Exportação, Powershoring e Demandas, acredita que a solução seja o investimento estrangeiro.
O trunfo para atraí-lo encontra-se na recomposição da matriz energética nacional: 93% da energia elétrica brasileira em 2023 veio de fontes renováveis, aponta relatório da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). O recorde constitui uma vantagem do país na economia de baixo carbono. Para o diretor da Prumo Logísticas, Mauro Andrade, a capacidade de recursos renováveis do Brasil fortalece a competitividade do país na comercialização do hidrogênio verde:
— A maior vantagem na conversão de hidrogênio verde em produtos é que já existe um mercado nessa área. O Brasil tem todos os materiais e condições necessários para a produção de hidrogênio verde no seu ecossistema. A ideia agora é atrair investidores.
O alto custo de projetos verdes, argumenta Fritsch, torna necessário o aporte de capital externo. Ele ressalva que a entrada de dinheiro estrangeiro aumenta o risco inicial do projeto, “sobreposto pela realidade econômica do país”. O professor e economista sugere , “uma boa política macroeconômica” e juros atraentes para diminuir o risco e aumentar os investimentos.
Ainda de acordo com Winston Fritsch, o Plano de Transição Ecológica apresentado na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023 (COP28), representa um passo para a economia do baixo carbono. O especialista considera o plano lançado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, “uma lista de desejos que vem ganhando ações concretas”, como o programa Ecoinvest. A iniciativa é um mecanismo de financiamento de proteção de florestas para facilitar a captação de investimentos privados e estrangeiros direcionados à transformação ecológica:
— O governo está dando passos importantes na construção de um modelo novo de investimento verde que vai transformar o país e o mundo — avalia — Moléculas de hidrogênio podem substituir carvão e gás natural na produção de materiais verdes.. O aço verde é um exemplo. Ao invés de sair CO2 dos borbotões, sai água. Se tudo correr bem, o Brasil vai ser um esverdeador global —prevê Fritsch..
Já o professor da Universidade de Brasília Jorge Arbache aposta no chamado powershoring: instalação de indústrias próximas a locais com fontes energéticas renováveis. O estratégia facilita o acesso ao recurso e reduz os custos de transmissão. Arbache reforça que o hidrogênio deve ser visto como uma ferramenta para atrair investimento estrangeiro, mas reconhece desafios em relação à segurança, à infraestrutura, ao transporte e aos gastos na transição do hidrogênio para a amônia:
— Devemos produzir hidrogênio verde para exportação por meio de amônia, por exemplo, ou devemos usá-lo para atrair investimentos.
O ex-ministro de Energia do Chile Ricardo Raineri observa que a estratégia de hidrogênio verde do país vizinho se assemelha à brasileira. A alta radiação solar constitui uma vantagem chilena na produção de energias renováveis variáveis (ERV). Segundo o economista, o Chile poderia gerar setenta vezes mais ERV do que o que produz atualmente. “Pretendemos, até 2030, tornar renovável 80% da produção de energia no nosso território”, planeja Raineri. Ele confia que o Chile pode liderar a exportação de hidrogênio verde no mundo “a partir do investimento nas estruturas necessárias, de regulações de incentivo e do apoio de diferentes agentes sociais”.