O pesquisador nunca é um mero observador em um ambiente de pesquisa, afirma a psicóloga e professora Silvia Koller. Segundo ela, o pesquisador também é uma “pessoa em desenvolvimento, e por isso deve estar sempre interagindo e participando”. Aos colegas da PUC-Rio, a titular do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul explicou como esta filosofia se desdobrou numa técnica de pesquisa conhecida como inserção ecológica. O procedimento é baseado na teoria bioecológica do desenvolvimento humano sedimentada pelo psicólogo Urie Bronfenbrenner, explicou Silvia à plateia que lotava o auditório do RDC, no seminário 50 anos do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUC-Rio: uma história de pioneirismo, inovação e resiliência.
– A teoria de Bronfenbrenner é voltada para a saúde e o bem-estar, tentando sempre propor o desenvolvimento social. Mas ele não propôs uma metodologia, então criamos a inserção ecológica. Bronfenbrenner sempre disse que devemos fazer uma psicologia para pessoas reais em lugares reais, não em laboratórios. É isso que procuramos refletir no nosso método – destacou a palestrante.
A inserção ecológica sustenta-se em cinco fundamentos voltados a tornar mais proveitosa a interação entre o pesquisador e o participante da pesquisa. De acordo com a metodologia, os pesquisadores devem interagir de forma regular e progressiva ao avanço do estudo. Devem também considerar “todo o contexto” e construir uma relação recíproca com o participante, de maneira “dar sentido à participação”, explica Silva.
– Nosso principal objeto de estudo são as populações em risco. Trabalhamos muito com crianças de rua. No início eu pensava em dar um chocolate ou um biscoito como uma recompensa por ter conversado conosco, mas as minhas experiências em campo me mostraram que elas não querem ser recompensadas, só querem ser escutadas por alguém que realmente quer escutá-las – exemplifica.
Silvia acrescenta que é preciso adaptar as atividades de pesquisa às necessidades e aos traços específicos. Ainda de acordo com a pesquisadora, recursos lúdicos “costumam funcionar bem entre as crianças de rua”. Assim, o que seria um questionário longo e tedioso é transformado, por exemplo, numa brincadeira com bonecos e materiais de papelaria, conta a professora. “As crianças de rua não costumam ter muita disciplina para sentar e responder perguntas formais. Então, precisamos cativá-las de outras formas”, justifica.
Silvia destaca também o proveito do método de Bronfenbrenner ao desenvolvimento social. Pois, acredita ela, “se a pesquisa não tiver reflexo na melhoria de vida das pessoas, não pode ser chamada de bioecológica”. A prerrogativa reflete-se no duplo sentido da pesquisa: compreender melhor determinado grupo e proporcionar melhores oportunidades de vida para os integrantes.
– Os pesquisadores não podem ter pressa. Deve-se respeitar o participante e a qualidade dos dados. Ao identificar uma demanda diferente da que está sendo pesquisada, o profissional deve priorizar a ética e explorar essa demanda.
A palestra de Silvia Koller integrou o seminário em comemoração aos 50 anos do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica da PUC-Rio, promovido no dia 21 de outubro.