O professor titular da UFRJ Muniz Sodré falou durante a 22ª Convenção da Associação de Ecologia das Mídias (MEA), no dia 9 de julho, via Zoom, como os algoritmos intervêm na vida política e relembrou de que forma, no século passado, os desdobramentos tecnológicos foram taxados como elementos fundamentais para o sucesso da democracia. O jornalista expôs que o digital não sustenta a liberdade cívica e responsabilizou os algoritmos pela desventura.
Para ele, a sociedade atual é uma sociedade “incivil”, como um novo tipo de máquina tecnossocial que municia Estado, mídia e grandes empresas com os dados dos usuários. O palestrante afirma que o mundo enfrenta uma hegemonia cultural algorítmica que esvazia os valores civis.
– A verdade é que existe um esvaziamento de valores. Esse fato sustenta as instituições e enfraquece a democracia e a representação parlamentar, colocando a sociedade civil de cabeça para baixo – afirma.
De acordo com Sodré, no início do século XX, se apostava em desdobramentos tecnológicos da informação como se fosse um “solo supostamente natural” para o desenvolvimento de aptidões humanas. Ao longo da segunda metade do século XX, a comunicação tornou-se um fator a ser acrescentado ao funcionamento da democracia. O conhecimento, a informação e a comunicação atrelados à tecnologia passaram a ser um novo caminho para as esperanças sociais.
– Se apostava que o avanço exponencial da ciência e da técnica traria e redundaria em mais felicidade cívica. Junto a isso, a modelagem societária, propagada pelas instituições políticas do final do século XVIII dariam mais liberdade e mais responsabilidade aos homens diante da vida social – declara.
Já no século XXI, o jornalista acredita que foi posto à luz reservas teóricas e práticas a essa suposta transitividade cultural da liberdade. O alargamento técnico dos meios, o aumento da transparência social, a ampliação dos laços interpessoais e a reciprocidade comunicativa foram capazes de dinamizar os focos gerativos da cultura. Visto isso, ele reflete sobre os graus de civismo e de liberdade e a influência da política de algoritmos diante destes fatores.
Professor titular da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Muniz Sodré é jornalista e sociólogo, além de autor de quase uma centena de livros, inclusive Antropológica do Espelho (2009) e Monopólio da Fala (2001). De 2009 a 2011, ele exerceu o cargo de Presidente da Fundação Biblioteca Nacional. Muniz Sodré também é palestrante em diversas instituições de países como Estados Unidos, Espanha, Portugal e Colômbia.