No ano em que a censura à imprensa se tornou mais severa, devido ao Ato Institucional nº 5, decretado em 13 de dezembro de 1968, pelo regime militar, morria o homem que, até hoje, é considerado o rei da comunicação no Brasil. Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, mais conhecido como Chatô, construiu um verdadeiro império da imprensa no país.
Mais do que um advogado, um professor catedrático da Universidade de Pernambuco – embora na época não tivesse preparo suficiente, conseguiu o cargo por ser namorado da filha do reitor –, um jornalista, um senador pelo Estado do Maranhão, um embaixador ou um membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), Chatô foi um empreendedor. E um dos homens mais poderosos da história brasileira.
Fundou e dirigiu uma das maiores cadeias de imprensa do Brasil, os Diários Associados. Em 1924, ao comprar o O Jornal e o Diário da Noite, dava início ao que seria, mais tarde, o grupo Diários Associados. Foi com esse grupo que Chatô expandiu sua influência em todo o país. No auge dos Diários, o grupo tinha 36 jornais, dezenove TVs, 25 rádios, dezoito revistas e duas agências de notícias. Foi graças a ele que, em 18 de setembro de 1950, a televisão chegou ao Brasil.
- A televisão nasce em um período muito inadequado, porque 60% das casas no Brasil não tinham energia elétrica ainda. Mas ele cismou que a televisão tinha que ser inaugurada no Brasil, que estava na hora, conta Rose Esquenazi, professora do Departamento de Comunicação Social.
Chateaubriand escolheu como modelo para a TV Tupi o americano, que era mais comercial. Como seu objetivo era ganhar dinheiro, nem cogitou escolher o modelo educativo inglês. Ele exigiu que os funcionários de sua rádio fossem trabalhar na emissora, e eles, apesar de contrariados por receio de mostrar o rosto, aceitaram o convite por falta de opção. No início, a TV era um “rádio com imagens”, transmitida toda ao vivo, e na base da experimentação.
Com a televisão, Chatô foi ficando cada vez mais poderoso, apesar de não ter tido muitos recursos para geri-la. Porém, com o início da ditadura e a criação de novas emissoras, ele começa a perder espaço, pois o panorama da televisão muda. Além disso, seus funcionários, insatisfeitos, ficavam meses sem ganhar salário. Uma vez, enquanto seus empregados faziam fila para receber o pagamento, ele foi ao caixa e retirou todo o dinheiro para comprar um colar para a Rainha Elizabeth, que estava no Brasil.
- Ele era inescrupuloso e desrespeitava o profissional. Achava que quem estava na televisão não precisava receber o salário, porque só o fato de estar na televisão já era ótimo, uma propaganda para a pessoa. Era uma coisa meio louca, lembra Rose.
Na mesma época em que criou a TV Tupi, ele criou também o Museu de Arte de São Paulo (Masp). Comprou várias obras na Europa do pós-guerra, quando estavam desvalorizadas. Além disso, quando encontrava quadros interessantes de empresários brasileiros, fazia propostas para comprá-los, e se o dono não quisesse vender, ele o chantageava, fazendo campanhas em seus jornais.
Uma das maiores preocupações de Chateaubriand era dar continuidade ao império que construiu. Em detrimento da própria família, ele preferiu deixar os Diários Associados para os condôminos do grupo, e o dividiu em ações. “Ele é muito contraditório. Ele decidiu não deixar com a família porque eles podiam torrar tudo, e ele queria manter esses meios de comunicação”, diz Rose.
Assim, apesar da morte de seu fundador, os Diários Associados existem até hoje e contam com doze jornais, doze rádios, sete estações de televisão, seis portais e a Fundação Assis Chateaubriand. Chatô morreu em 4 de abril de 1968, depois de sofrer durante alguns anos de trombose cerebral.
Edição 197