Quanto ao futuro, Clarice reúne ensaios e depoimentos sobre a escritora  

O lançamento do livro em comemoração do centenário de Clarice Lispector reuniu diversos admiradores da escritora no dia 29 novembro, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Organizada pelo Decano do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, professor Júlio Diniz, a obra Quanto ao futuro, Clarice traz 19 ensaios e três depoimentos pessoais sobre a escritora e jornalista. O livro foi escrito em coedição entre as Editoras PUC-Rio e Bazar do Tempo. 

Dentre os nomes escolhidos para participar da homenagem estão os escritores Silviano Santiago e Ana Kiffer, a cantora Maria Bethânia e as amigas de Clarice, Nélida Pinon e Marina Colasanti. Colasanti esteve no lançamento e lembrou com saudades da colega de trabalho. Além do carinho e da admiração pela escrita de Clarice, ela contou alguns hábitos e nuances da autora na hora de escrever.

- Naquela época ainda era máquina de escrever, então, uma vez, mostrei à funcionária a caixa de madeira em que colocávamos as crônicas de Clarice, pois eu revisava as crônicas dela. E ela sempre me dizia: peça aos revisores para não trocar minhas vírgulas, minhas vírgulas são a minha respiração.

Para Diniz, Quanto ao futuro, Clarice é uma tentativa de manter a voz viva da escritora, de mostrá-la do presente para o futuro. A intenção nunca foi, segundo ele, de fazer uma homenagem melancólica ou nostálgica.

- É um jogo entre presente e futuro. E, na verdade, é um sinal de esperança, de luz, em um momento que é difícil, por várias razões, na vida brasileira, principalmente na vida artística e cultural brasileira. É um tributo ao "por vir", é um tributo à esperança, é um tributo à vida.

Além dos textos e depoimentos sobre a autora, o livro traz uma sequência de seis fotos inéditas de Clarice Lispector tiradas na PUC-Rio, em 1975. Pesquisadora do Núcleo de Memória da PUC-Rio, a professora emérita do Departamento de História Margarida de Souza Neves escreveu para o livro um texto com comentários sobre as  imagens encontradas.

- São seis fotografias quase idênticas. E são expressões dessa memória dela, que a gente nem sabia que tinha, nós encontramos esta documentação. É bom isso, a gente rever a memória que é, na verdade, uma expressão da identidade e da vida da mulher extraordinária, da mulher fora de série, de uma intelectual exemplar.

 

O Decano do CTCH contou que, além da dificuldade para escolher quem participaria da homenagem, outro empecilho foi a pandemia da Covid-19. A ideia inicial, que surgiu em 2019, era de homenagear Clarice na data exata dos 100 anos de nascimento da autora, em dezembro de 2020. Mas, como a situação da pandemia ainda não estava controlada, os planos foram adiados. Com o avanço da vacinação e queda sucessiva dos números de internações e mortes, o encontro pôde ser realizado um ano depois do previsto. Clarice Lispector morreu em conseqüência de um câncer no ovário no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes de completar 57 anos.