"Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo". Depois dessa frase, minha ficha caiu. Estava diante do Papa Francisco, da presidente da República, Dilma Rousseff, e com jornalistas de todos os lugares do mundo. Eu, com apenas 20 anos, no quarto período do curso de Comunicação Social, fui cobrir o primeiro discurso do Papa no Brasil, no Palácio Guanabara. Quando poderia imaginar que isso fosse ocorrer? Nervosismo, animação e tensão. Senti tudo ao mesmo tempo.
Mas minha ansiedade passou logo quando chegamos. Centenas de policiais militares na porta do Palácio. Uma sensação ímpar de segurança no Rio de Janeiro. Depois disso, foram apenas cinco horas de espera pelo Papa. Cinco horas à base de dois biscoitos, água, café e um suco sem gosto. Sim, esse foi o coquetel que nos foi oferecido. A partir daí, comecei a perceber que os jornalistas são tão “bem tratados” que precisam levar um lanche na bolsa, caso queiram matar a fome durante um plantão.
Enquanto não éramos chamados para a cerimônia, ficamos em uma área com mesas, o que facilitou a observação dos meus futuros colegas de trabalho. Certamente uns deviam achar que eram as estrelas do evento, principalmente alguns da televisão. Afinal, uma câmera na mão vale mais do que um mero bloquinho de anotações de um repórter de jornal.
Quando soubemos que teríamos que ficar de pé, apertados e no fundo do salão da cerimônia, logo tive a certeza de que jornalista é “bem valorizado”. Melhor ainda foi sentir a simpatia dos “jornalistas estrelas da noite” nesse local agradável em que fomos colocados. No mínimo, achavam que tinham comprado cadeira cativa. O que chega a ser uma ironia, já que estávamos de pé.
As surpresas não pararam por aí. De repente, todos os jornalistas gritaram apontando para cima. Alguém disse que tinha um rato passeando pelo teto. Eu não vi. Mas logo pensei: talvez o animal quisesse conhecer o Pontífice também. Ou será que ainda era um resquício daqueles roedores das Laranjeiras que o Muricy Ramalho, ex-técnico do Fluminense, reclamava?
O discurso do Papa foi emocionante como já era previsto. Mas as emoções continuaram mesmo depois da cerimônia. Por conta das manifestações na frente do Palácio, o ônibus teve que andar de ré na nossa saída. As principais autoridades foram embora de helicóptero, é claro.
Apesar das horas de espera e das surpresas ao longo do plantão, foi uma experiência única, ainda mais para mim, uma estudante de jornalismo. E ainda percebi que é preciso ser gente grande para encarar a realidade jornalística.
Edição Especial JMJ