A descoberta da fotografia que motiva essa crônica foi uma grata surpresa para a equipe do Núcleo de Memória. O evento que ela registra é um episódio curioso da história da PUC-Rio e esquecido pela comunidade universitária.
A imagem pertence ao acervo da Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Penha de França, nome solene relacionado a um dos lugares mais populares do Rio de Janeiro, a Igreja da Penha. Local de peregrinação desde o século XVII, o templo consagrado à Nossa Senhora foi logo batizado pela população por sua localização, pelo nome da região reconhecida por suas “graciosas e pitorescas montanhas” e pela vocação festiva de seu calendário sagrado que reunia populações de diversas latitudes geográficas e culturais da cidade e do país nas procissões e festas dedicadas à padroeira. Parte dessas multidões buscava com igual devoção momentos mais profanos da tradicional festa popular nas memoráveis rodas de samba, verdadeiras congregações dos grandes nomes da música popular carioca do século XX.
Em 1941, além da grande procissão, o Livro de Atas da Mesa Administrativa e o Livro de Fatos Extraordinários da irmandade registram um evento reconhecido como memorável pelos ativos fiéis da paróquia: a construção e consagração de “um artístico e simbólico cruzeiro” em comemoração à transferência da festa de Nossa Senhora da Conceição Aparecida para o dia da pátria e à “fundação da 1ª Universidade Católica no Brasil”. Com a presença do cardeal D. Sebastião Leme, então Arcebispo do Rio de Janeiro e idealizador das Faculdades Católicas instaladas no ano anterior, o “Cruzeiro da Universidade” foi inaugurado como marco de fundação do que deveria ser, nas palavras de um dos presentes, “uma modelar Universidade Católica, integrada nos seus princípios e completa na sua eficiência.”
Em 2013, o Cruzeiro da Universidade permanece de pé. No entanto, como um dos resultados da violência e do abandono que esta região da cidade tanto sofre, ele encontra-se inacessível, cercado pelo mato e parcialmente destruído. Como um sinal de novos tempos, a reforma recém-concluída da igreja cartão-postal da cidade promete estender-se por sua área externa e quem sabe, incluir a esplanada onde se localiza o cruzeiro. Para que, como nesta foto – uma janela do tempo – ele seja novamente contemplado como marco de fundação da PUC-Rio e de reflexão sobre sua presença na história da cidade.
Silvia Ilg Byington
Núcleo de Memória PUC-Rio
Edição 273