Há testemunhos de que Eduardo Coutinho frequentou os bancos escolares da PUC-Rio nos anos 70 quando trabalhava no Globo Repórter e lhe exigiram o diploma de jornalista. Foi aluno do professor Augusto Sampaio de Introdução à Economia, durante o Ciclo Básico. Não concluiu o curso, mas, na memória do nosso Vice-Reitor Comunitário, apresentou um alentado e substantivo trabalho no final do período letivo. Talvez tenha sido a inspiração para o pioneiro vídeo que realizou, em 1989, sobre a dívida externa brasileira, chamado O jogo da dívida, que teve uma memorável sessão, com debates, no RDC da PUC, completamente lotado.
Coutinho esteve na PUC muitas vezes. Sempre atendeu aos convites dos professores para falar sobre o seu trabalho com os alunos. Muitos dos seus filmes foram apresentados e discutidos, com a sua presença, em eventos organizados pelos mais diferentes setores da Universidade. Curiosamente, a academia o irritava, pois achava que todos nós somos muito teóricos e inventávamos sentidos para tudo, inclusive para aquilo que não fazia sentido. Sempre foi um crítico sincero em suas falas. Ao mesmo tempo admirava o saber e nele sempre se apoiou para construir sua obra. Não gostava de parecer espontâneo. Era espontâneo de coração. Entrava em diálogo sem preconceitos. Pedia para ser motivado a falar. A última vez que estive com ele foi no Polo do Pensamento Contemporâneo, em junho do ano passado, quando Consuelo Lins conduziu uma conversa sobre o seu trabalho de documentarista. Queria saber como estava de saúde, pois passara por momentos muito difíceis, inclusive internado em CTIs, deixando os amigos mais próximos em pânico. Gostei de vê-lo em uma postura mais amena.
Tive a honra de estar junto com ele na abertura de um dos módulos do curso de cinema que o Núcleo de Comunicação Comunitária do Projeto Comunicar vem promovendo com as favelas do Rio de Janeiro. Ele estava feliz. Acreditou no que estávamos fazendo e reencontrou, como um dos alunos, um personagem e facilitador do seu famoso Duas semanas no morro, realizado no Santa Marta, em 1987, o líder comunitário e hoje diretor do IBASE, Itamar Silva. Sentou-se no chão e provocou a todos com a sua famosa inquietação. Foi uma aula brilhante e inesquecível. Coutinho era assim, singular, inesquecível e amado por todos os que revelou em sua arte.
Miguel Pereira
Coordenador-geral do Projeto Comunicar e coordenador do curso de Pós-Graduação do Departamento de Comunicação
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