A crise econômica no Brasil tem levado milhares de pessoas para a informalidade. Mais de 720 mil pessoas exerciam alguma atividade sem carteira assinada entre os meses de abril e outubro de 2017, por exemplo, o que representava 75% das vagas geradas no pais no ano passado. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad) Contínua Mensal, ligada ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e valem para os que estavam desempregados ou para os que desejavam complementar a renda mensal.
Moradora do Méier, zona norte do Rio, Suely Fernandes, 48 anos, tem dois empregos informais. De segunda a sexta-feira, ela presta serviços de administração em uma empresa de topografia, mas não tem carteira assinada. Aos sábados, vende pastel na feira do Grajaú Tênis Clube. Segundo Suely, a rotina do trabalhador informal é difícil e o retorno financeiro é incerto.
- Deram baixa na minha carteira em janeiro, mas ainda presto serviço com nota fiscal para a empresa, recebendo menos. No fim de semana, faço pastel para complementar a renda lá de casa. Juntando o trabalho de segunda a sexta com o do fim de semana, vejo que trabalho muito, mas não tenho ganhado tanto. Gosto de estar aqui, mas acho que um emprego ou um tipo de venda com mais garantia são opções melhores.
Segundo Suely, essa segunda renda tem sido possível por causa do programa governamental Microempreendor Individual (MEI) que, de acordo com números do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), tem 7 milhões de inscrições, o que representa 58,3% dos CNPJs no Brasil. Ela disse se ver como uma empreendedora, mas que este ainda é um universo com pouca informação e, por isso, muitas pessoas acabam iludidas com a ideia de empreender.
- Sou uma empreendedora porque a cada dia eu quero inovar, chamar atenção para que meu pastel não seja só mais um. Mesmo assim, ainda acho que falta informação para as pessoas. Já vi gente largar emprego achando que ser empreendedor é simples e quando se deram conta as finanças estavam comprometidas.
Em recente pesquisa divulgada pela Endeavor, uma rede internacional de apoio ao empreendedorismo, o Brasil leva em média 80 dias para formalizar um negócio. A professora de Empreendedorismo da Escola de Negócios da PUC-Rio Luiza Martins afirma que, para abrir um negócio no Brasil, é necessário que o empreendedor vença os entraves burocráticos e reúna o máximo de informação do mercado que puder. Para Luiza, aqueles que querem ser empreendedores precisam encontrar meios e redes de apoio que os auxiliem.
- Burocracia, carga tributária e a situação financeira são questões que o trabalhador informal enfrenta para abrir ou complementar seu negócio. Para superá-los, a pessoa deve procurar redes de apoio como o Sebrae e alguém que saiba de algo que ela não tenha competência. Se a pessoa consegue produzir algo muito bem, deve trazer para o seu lado alguém que conheça de venda, por exemplo.
A busca pela liberdade e pela autonomia é um dos fatores que faz com que mais trabalhadores tradicionais se tornem empreendedores. Esse é o caso de Luzia Oliveira, 51. Dona de uma confecção de roupas, ela trabalha com esse tipo de atividade desde os 25 anos. Já teve seis lojas e, por conta do alto preço do aluguel, fechou todas. Moradora do Cachambi, hoje Luzia trabalha com venda de roupas em três feiras pela cidade. A principal fica na Rua Afonso Cavalcanti, na Cidade Nova. Ela relembra que o desejo de começar esse tipo de trabalho era o de “não ter patrão”.
- Eu compro meus tecidos, costuro, fabrico, armazeno e vendo. Quatro pessoas me ajudam, além da minha filha, que tiras as fotos para a página no Facebook. Sou minha própria chefe. É bom porque faço minha rotina, mas sinto falta de férias, 13º salário. Mesmo assim, acho que esse tipo de trabalho compensa.