Memórias de uma redação que nascia
07/12/2007 16:00
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Primeira equipe de estagiários do Projeto Comunicar lembra jornal de vinte anos atrás

Tec, tec, tec... Era novembro de 1987 quando o som das velhas redações de jornal chegou aos corredores do quinto andar da Ala Kennedy. Na ocasião, dez estudantes de Comunicação Social sentaram-se diante de grandes e antigas máquinas de escrever. Tec, tec, tec... Nascia o Projeto Comunicar. Sob a batuta de professores de Comunicação, os estagiários pioneiros fizeram os primeiros exemplares do PUC Urgente e do JORNAL DA PUC. Vinte anos depois, fomos atrás daqueles jovens cheios de sonhos, uma geração que viveu a abertura política e uma das piores crises econômicas da história do país.

Uma das primeiras equipes de estagiários festeja
o primeiro aniversário do Projeto, em novembro de 1988
– Tudo funcionava como uma mini-redação de jornal: vivíamos todos os problemas, os dilemas éticos na produção de uma reportagem, o que é ou não notícia. Era lá que a gente aprendia como escrever um bom texto jornalístico, conta Adriana Oliveira, 39 anos, que passou quase três no JORNAL DA PUC. E, pelo visto, aproveitou muito bem a oportunidade: saiu direto para o jornal O Globo, onde trabalha atualmente como sub-editora da editoria Rio.

Para Maurício Lyrio, 40 anos, que trabalhou no JORNAL DA PUC de novembro de 1987 a março de 1988, a experiência no Comunicar foi importante para melhorar seu estilo de escrever: "Eu tinha tendência a gostar de um nariz-de-cera [gíria jornalística que se refere ao lead pouco objetivo, que dá voltas ao invés de ir direto ao ponto]. Foi o Fernando Ferreira [Coordenador do Comunicar até hoje] quem me ensinou a evitar isso." Hoje diplomata do Itamaraty, recentemente promovido a Conselheiro, Maurício passou dez anos fora do país: sua última missão foi como Primeiro Secretário da Embaixada Brasileira em Pequim, na China.

A fotógrafa Anna Kahn, 39 anos, guarda na memória uma matéria que fez para o JORNAL DA PUC. Ela entrevistou Gilberto Ferrez, neto de Marc Ferrez, um dos fotógrafos mais importantes do século XIX, que retratou o Brasil nos períodos do Império e do início da República.

– Ele me mostrou uma sala onde estavam placas de vidro com grãos de prata [técnica utilizada no passado para registrar imagens fotográficas] de seu avô. Era um verdadeiro tesouro da fotografia. Grande parte do trabalho de Marc Ferrez foi posteriormente vendida para colecionadores e é guardada em cofre-forte. E eu vi tudo isso de perto – recorda.

Anna ganhou o prêmio de melhor fotógrafa da Comissão Européia de Turismo, em 2002. A mostra Encontros na madrugada, com fotografias suas de mortes provocadas por balas perdidas, foi inaugurada no dia 23 de novembro, no Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro, e fica em cartaz até 17 de fevereiro.

As dificuldades enfrentadas no início são lembradas nestas charges
de Mig, publicadas por ocasião do 10º aniversário do Comunicar
Nem tudo foi fácil nos primeiros meses do Comunicar. Miguel Mendes – o Mig –, de 39 anos, hoje diretor de arte e desenhista, lembra que a equipe do jornal enfrentou resistência dos departamentos, que não queriam fornecer pautas e informações. "A gente tentava descobrir as notícias da semana, mas as pessoas achavam que não tinham nada a noticiar. Escondiam mesmo. Talvez tenha sido preconceito contra o estudante de Comunicação", opina Miguel.

O desenhista, que trabalhou durante muitos anos com Ziraldo, montou há um ano o seu próprio estúdio de ilustração e design, o Megatério. "Aprendi no Comunicar o funcionamento de uma publicação, as etapas do processo, como me relacionar com as fontes e com o grupo de trabalho. Isso me vale até hoje", conta.

Para Simone Rocha, 40 anos, ex-repórter do Comunicar e hoje diretora-executiva dos Médicos Sem Fronteiras no Brasil, o PUC Urgente e o JORNAL DA PUC têm uma função muito importante dentro da Universidade. "Sabe-se muito mais hoje sobre a PUC, sobre o que se passa no campus, do que antes de esses veículos existirem", avalia.

– Tenho o maior orgulho de ter participado da primeira equipe do Comunicar e de saber que o projeto existe até hoje. É um trabalho de educação e de formação profissional exemplar. Tenho muito respeito pelos professores que se dedicam ao projeto, diz Simone.

Primeiras páginas de uma nova história

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Uma imensa foto do campus, lotado de jovens, ilustrava a capa da primeira edição do JORNAL DA PUC, que passava a fazer parte do recém-criado Projeto Comunicar. A imagem vinha acompanhada de chamadas para matérias sobre o vestibular de 1988 e a comemoração de 19 anos do Coral da PUC, além de uma mensagem do então Diretor do Departamento de Comunicação Social, professor Cesar Romero Jacob. A publicação, com quatro páginas, circulou pela Universidade em dezembro de 1987, fruto de muita expectativa e tensão.

O fechamento do primeiro jornal percorreu algumas noites adentro. "Queríamos fazer o melhor possível. Num dos dias saímos da PUC à 1h", lembra o Coordenador Geral do Projeto Comunicar, Fernando Ferreira. As matérias tinham sido elaboradas em reuniões de pauta dos estagiários com os professores, responsáveis pela orientação. O desenhista Miguel Mendes era um dos repórteres, que não tinham o nome assinado nas matérias – uma característica da imprensa da época.

– Éramos repórteres inexperientes, não sabíamos que cara o jornal teria. Tudo era uma grande novidade, estávamos começando a entender os departamentos, por meio de apurações para o PUC Urgente, recorda Miguel.

Pelas páginas da primeira edição, fica difícil perceber a dificuldade técnica de se elaborar um jornal há vinte anos. "Estávamos vivendo uma transição na tecnologia. Nosso trabalho era muito artesanal", explica a professora Sandra Korman, do Departamento de Comunicação Social, que foi a primeira diagramadora do JORNAL DA PUC. Após a entrega dos textos, digitados em máquinas de escrever, Sandra, Vitor Iório (então professor da PUC e um dos coordenadores do Projeto) e Fernando assumiam o comando.

– Eu parecia mais uma engenheira do que alguém de Comunicação. Tínhamos que contar todas as laudas, os toques e as linhas, para fazer uma projeção do jornal e desenhá-lo num diagrama, explica Sandra.

Os estagiários participaram de todo o processo, em volta da mesa de trabalho de Sandra. "Eu sempre escutava a ‘choradeira’ dos repórteres, que pediam para que as matérias não fossem cortadas, ou que as fotos ficassem em destaque", comenta. Depois de pronto, o jornal foi impresso na gráfica do Jornal do Brasil e distribuído pelo campus.

Os assuntos dos quatorze textos da edição eram bem variados. No meio de reportagens institucionais, estava uma inesperada carta do Diretor da Agência Angola Press (Angop) no Brasil, Aníbal João Melo, sobre os ataques sul-africanos ao território angolano. Miguel diz que foi um panorama fotográfico do campus, publicado na última página, o que mais o marcou. Ele não se lembra bem da repercussão da primeira edição, mas explica: "Era o primeiro de vários. Na época em que o jornal saiu, já pensávamos no próximo número."

Edição 194 - Caderno Especial

 

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