Versatilidade de um jesuíta alemão e outro italiano
17/12/2012 15:10
Padre Pedro Magalhães Guimarães Ferreira, S. J.

Série Jesuítas na Ciência - 5

Athanasius Kircher: Alemão (1602 (ou 1601) – 1680). Ensinou por muitos anos no Colégio Romano (que foi o precursor da Universidade Gregoriana) e escreveu sobre muitos assuntos, colaborando com o desenvolvimento de praticamente todas as ciências do seu tempo, tais como matemática, astronomia, harmônica, acústica, química, microscopia e medicina, tomando assim parte na "revolução científica" da época. Era além disso um linguista fenomenal, sendo considerado o melhor intérprete dos hieróglifos no seu tempo; estabeleceu a ligação entre a antiga língua egípcia e o copta contemporâneo, sendo considerado o fundador da egiptologia. Ficou fascinado com a sinologia, escrevendo uma enciclopédia sobre a China, observando a presença lá de cristãos nestorianos. Fez inúmeras experiências científicas e explorações geográficas. Ele pesquisou os segredos do mundo subterrâneo, estudando os vulcões e os fósseis, pesquisou sobre a terapia musical, descobriu a fosforescência marinha e os germens transmissores de doenças epidêmicas, sendo um dos primeiros a usar o microscópio para observar os micróbios. Entre suas invenções constam o megafone, um relógio magnético (mas que não foi o primeiro, que deve ser atribuído a um outro jesuíta, Linus de Liège), um pantógrafo para solucionar problemas de geometria e uma máquina de calcular. Escreveu 39 livros científicos, alguns deles alentados. É interessante notar que ele fez a hipótese de evolução das espécies: por exemplo, segundo ele, o veado, emigrando para territórios frios, tornou-se uma rena, alguns híbridos teriam dado origem a espécies diferentes como no caso do "armadillo", resultado de tartarugas e porco-espinhos... Ele se antecipou assim em 200 anos a Darwin. [Isto é interessante, mostrando que o inglês não tirou do nada suas ideias, como aliás é bem conhecido]. Fez um museu de ciências, o "Kircher Museum", considerado na época um dos melhores do mundo. Por tudo isso, Kircher obteve um lugar entre os pais da ciência moderna e os títulos de "gênio universal" e "mestre de uma centena de artes". Um estudioso moderno, Alan Cutler, descreve Kircher como "um gigante entre seus confrades cientistas [do seu tempo]" e "um dos últimos pensadores que se poderia dizer que possuía todo o conhecimento do seu tempo". Um outro estudioso, Edward W. Schmidt se refere a Kircher como "o último homem da Renascença" [em termos de conhecimento de tudo o que se sabia na época]. Ele foi comparado a seu confrade jesuíta Roger Boscovich e a Leonardo da Vinci pela enorme amplitude de seus interesses. (Esta última informação é da Wikipedia). A memória de Kircher foi negligenciada até a segunda metade do século passado. Um autor atribui à redescoberta do seu trabalho às similaridades entre seu ecletismo e o "pós-modernismo". Ele é um dos últimos seres humanos a pretender "saber tudo". (Leibniz teria sido o último). A crítica contemporânea de seus trabalhos tem enfatizado o valor estético do mesmo, por exemplo, na beleza das ilustrações dos seus escritos.

 

Pietro Sforza Pallavicino: Italiano (1607 – 1667). Foi historiador eminente, alem de teólogo, professor do Colégio Romano (precursor da Universidade Gregoriana). Conhecido especialmente por sua obra História do Concílio de Trento (1653), encomendada pelo Papa Inocêncio X a fim de corrigir algumas versões hostis sobre o mesmo Concílio. Esta obra de 2 volumes lhe tomou 5 anos de trabalho nos arquivos vaticanos.

 

Pe. Pedro Magalhães Guimarães Ferreira, S.J.

 

Presidente da Mantenedora da PUC-Rio

 

Edição 265

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