Formado em Letras, Cortázar tem como uma das características singulares a forma em que explorou as possibilidades do conto como gênero literário. Segundo a professora de Comunicação Social da PUC Denise Lopes, uma das organizadoras da exibição, Cortázar revolucionou a forma de escrever o conto.
– A obra dele transcende o tempo. Um aluno de 20 anos, no século XXI, no Brasil, lê Cortázar e se maravilha por conta do ritmo, da dúvida – diz.
A professora de Letras da USP Ana Cecília Olmos, especialista em literatura e cultura hispano-americana, explica que Cortázar leu grandes mestres do conto da literatura ocidental e latino-americana, como o americano Edgar Allan Poe e o argentino Jorge Luis Borges, e trabalhou sobre essa forma narrativa, na linha do relato fantástico, no sentido de renovar estruturas e temas.
– Considero que esse aspecto de sua obra foi o mais relevante. De fato, quando se trata de pensar a narrativa breve na literatura latino-americana, a referência a Cortázar é inevitável. Outro traço importante de sua escrita diz respeito a certo tom coloquial – afi rma.
A presença de humor e ironia é um traço nos trabalhos do autor, o que torna instigante as leituras dos contos até hoje. Um dos livros mais importantes do autor argentino, O jogo da amarelinha, até hoje alimenta o imaginário da literatura latino-americana. Cortázar, com essa obra, criou uma forma de romance que é modelo para se pensar o próprio romance moderno.
O professor do Instituto de Letras da UFF Adalberto Müller destaca o elemento do estranho como componente marcante na obra do escritor. Isso cria, segundo Müller, o que se qualifi ca de fantástico dentro da obra.
Cortázar morreu em Paris, onde morava, em 12 de fevereiro de 1984. Ele desenvolveu uma depressão após a morte da última esposa, Carol Dunlop, dois anos antes. Há controvérsias em relação à causa da morte. Enquanto se acreditava que ele morreu de leucemia, uma amiga do escritor, a jornalista uruguaia Cristina Rossi, afi rmou, em entrevista à revista Ñ, do jornal Clarin, em fevereiro deste ano, que ele morreu de Aids.