A Sala Myriam Alonso
11/10/2012 17:20
Margarida de Souza Neves | Foto: acervo Ana Lúcia Einloft

Coluna do Núcleo de Memória da PUC-Rio

D. Myriam Alonso (1981)

A sala de reuniões da Vice-Reitoria Acadêmica tem nome próprio


Na placa de identificação em sua porta, lê-se: SALA DE REUNIÃO MYRIAM ALONSO.  É uma justa homenagem a uma pessoa muito especial e que assessorou, por muitos anos, os vários professores que exerceram a função de Vice-Reitores para Assuntos Acadêmicos.  É também um exemplo expressivo do significado do mapa simbólico da memória da Universidade que a toponímia do campus da PUC-Rio traça ao nomear alguns de seus espaços com referências aos que fazem parte de sua história.

 

Dona Myriam, como todos a chamavam com carinho e com deferência, foi funcionária da PUC-Rio por mais de 40 anos.  Ao ingressar no quadro de funcionários da Universidade em 1962, secretariou a antiga Escola Politécnica. Posteriormente passou a atuar na Vice-Reitoria Acadêmica, onde sua capacidade de trabalho, sua generosidade e sua estatura humana fizeram dela uma assessora preciosa não apenas para os Vice-Reitores Acadêmicos, mas para todos os que procuravam nela a solução para os problemas que sempre aparecem no dia a dia da vida acadêmica.  D. Myriam atendia a todos da mesma forma, e punha o mesmo empenho em buscar a solução para um aluno que a procurasse para resolver um impasse de matrícula; para um funcionário de algum Departamento que telefonasse para assegurar-se se uma dada medida era compatível com as normas da PUC-Rio; para um professor que indagasse sobre o andamento de seu processo de promoção ou para o Vice-Reitor Acadêmico que a consultasse sobre a legislação federal a respeito de algum aspecto da vida acadêmica.

 

O segredo que fazia de D. Myriam o porto seguro onde era possível encontrar acolhida e informação certeira era a rara combinação de competência, discrição, e disponibilidade que nela se aliavam a uma memória prodigiosa. 

Todos os que interagiram com ela certamente se lembram de histórias que mostram como D. Myriam manejava sua chave secreta capaz de abrir, sem ruídos, portas por vezes emperradas.  Pessoalmente, me lembro muito bem de uma reunião na Vice-Reitoria que ela secretariava e na qual eu sugeri, diante do problema de teses defendidas por alunos estrangeiros e que vinham redigidas em uma língua levemente aparentada com o português, que os alunos pudessem apresentar suas teses e dissertações em qualquer língua, desde que a banca atestasse por escrito que aceitava ler o trabalho naquela língua.  D. Myriam, discretíssima, nada disse no momento em que fiz a proposta, e citei para sustentá-la o exemplo da Universidade de Louvain, que assim procedia há décadas.

 

Minutos depois do final da reunião ela me procurou e disse, como sempre com o cuidado de cumprir com esmero o protocolo acadêmico mesmo ao falar com alguém que ela conhecia muito bem desde que ingressara na PUC-Rio como aluna, aos 17 anos de idade: “professora, tenho a impressão que não vai ser possível implementar a sua idéia, porque existe uma norma do MEC que impede que teses e dissertações sejam defendidas no Brasil em outra língua que não o português” e, depois de citar sem titubear o número da tal norma, me entregou a cópia da legislação pertinente. 

É um acerto que a sala de reuniões da Vice-Reitoria Acadêmica tenha o nome de Myriam Alonso.  Ela seguramente merece emprestar seu nome a uma sala cuja vocação é reunir os que assessoram o Vice-Reitor; examinar processos que dizem respeito à carreira docente; atender alunos e professores; discutir a melhor forma de encaminhar o cotidiano acadêmico e onde se faz tudo isso sem deixar de oferecer um espaço em que os aniversários dos funcionários, dos coordenadores centrais e do Vice-Reitor são festejados e onde, todos os dias, é possível encontrar a disposição um cafezinho acolhedor.

 

D. Myriam soube fazer tudo isso muito bem.  E é muito bom poder lembrar dela com carinho e com saudades quando cruzamos a porta da sala que leva seu nome.

 

Professora Margarida de Souza Neves
Departamento de História
Núcleo de Memória da PUC-Rio

 

Edição 261

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