Novo documentário de Walter Salles aborda vida de cineasta chinês. Uma sessão especial e debate com o diretor ocorreram no Espaço Itaú de Cinema, em Botafogo

Michelangelo Antonioni, Henri Cartier-Bresson e Hou Hsiao-Hsien. Dois cineastas e um fotógrafo, três nacionalidades e o mesmo admirador: Jia Zhang-ke. Descrito pelo jornal francês Le Monde como o principal nome do cinema asiático e um dos principais em atividade, o diretor chinês serviu de inspiração para o brasileiro Walter Sales produzir o documentário Jia Zhang-ke – um homem de Fenyang que foi exibido em sessão especial, no dia 3 de setembro, no Espaço Itaú de Cinema, em Botafogo.

Em 2006, Jia Zhang-ke ganhou o prêmio Leão de Ouro, no Festival de Cinema de Veneza, com o filme Sanxia Haoren. Walter Sales conheceu Jia, em 2007, na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Segundo Walter, Jia é o homem que está sempre no “olho do furacão”, é o homem certo no lugar certo.

– Não conhecia o Jia Zhang-ke pessoalmente e fiquei encantado com o raciocínio poético dele. Jia pensa o homem antes de pensar o cinema, daí surgiu a ideia de fazer um livro e depois um documentário. Me lembro de perguntar para ele na Mostra sobre o que o levou ao cinema. Ele respondeu que foram três pessoas. Antonioni ensinou o que era o espaço, Cartier-Bresson o que era o tempo e um cineasta de Taiwan, chamado Hou Hsiao-Hsien, que o fez entender a importância de trazer as questões pessoais para dentro do filme.

Com o cinema cheio, Walter agradece o público em chinês: xie xie – obrigado, em português – em especial ao professor Miguel Pereira, do Departamento de Comunicação da Universidade, pela contribuição e propagação do cinema brasileiro. No fim da sessão ocorreu um breve debate em que Walter explicou o que diferencia Jia de outros cineastas.

– Quando ele faz ficção se rebela contra os mecanismos internos da ficção e quando faz documentário vai além. Os bons documentários derivam na direção da ficção e os bons filmes de ficção derivam em direção aos documentários. A comunicação é esquecimento, e cinema é memória. No cinema do Jia Zhang-ke fica muito evidente que ele está produzindo a memória de um período da China que vai ficar para sempre.