Cardeal Martini inspira diálogo entre cristãos e não cristãos
30/08/2006 17:20
Rafaela Reinhoefer

Como resgatar a ética nos dias de hoje? Esta foi uma das indagações propostas durante a primeira sessão do ano da Cátedra Cardeal Carlo Maria Martini, promovida pelo Decanato do Centro de Teologia e Ciência Humanas da PUC-Rio, com o apoio da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Participaram do debate o padre Nilo Ribeiro, doutor em Teologia, e o dramaturgo Alcione Araújo. A Cátedra visa reunir fiéis e não fiéis para dialogar sobre assuntos atuais.

A primeira sessão do ano da Cátedra Cardeal Carlo Maria Martini teve como tema a ética. O padre Nilo Ribeiro, doutor em Teologia, e o dramaturgo Alcione Araújo participaram da mesa-redonda promovida pelo Decanato do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio, com o apoio da Arquidiocese do Rio de Janeiro, no dia 15 de agosto, no auditório do CTC. A Cátedra tem por objetivo reunir crentes e não crentes para debater assuntos atuais.

Como discutir o papel da ética em tempos de escândalos de corrupção na política e de falta de utopias? Para o padre Ribeiro, vive-se a "pandemia do esquecimento". A saudade, a memória e a esperança se perderam. Hoje predominam os sentimentos de desconfiança e desespero. A sociedade está fragmentada. O que importa para o homem pós-moderno é satisfazer suas necessidades imediatas. Mais vale o indivíduo (a parte) do que o grupo (o todo).

"A palavra boa é uma abstração cada vez maior", disse Alcione Araújo. O dramaturgo entende que a perda de valores está ligada ao aumento do individualismo. Ele concorda com as afirmações do padre Ribeiro sobre o alto grau de esfacelamento social.

Para que se possa resgatar a ética, é preciso escutar a palavra do outro. Foi este o principal ponto de convergência no discurso dos dois palestrantes: a alteridade. Seja como padre, seja como escritor, o fundamental é perceber – e acolher – a outra pessoa.

Alcione entende a arte como a produção do belo para o outro. Para ele, é preciso atentar para "a importância do indivíduo e a patologia do individualismo". O dramaturgo afirmou que a sociedade é atualmente dominada pela indústria do entretenimento. Isso gera a banalização do ser. Leva ao esquecimento de que falava o padre Ribeiro.

Os dois debatedores ressaltaram a importância da auto-estima para a valorização da alteridade. Só na medida em que o ser humano se descobre como um é que começa a amar os demais. Nas palavras do dramaturgo, "é preciso dar espaço para a existência do indivíduo, se não ele não consegue acolher o outro".

Edição 174