Padre Hainberger e o Instituto de Química da PUC-Rio
06/08/2012 15:20
Silvia Ilg Byington / Foto: Acervo do Núcleo de Memória da PUC Rio

Coluna do Núcleo de Memória da PUC-Rio

Pe. Leopoldo Hainberger S.J. em seu gabinete no Departamento de Química (1970)

 

Em uma vista aérea do campus da PUC-Rio, o prédio da química é identificado como um bloco contíguo ao antigo Instituto de Física que expande e alonga, na direção dos limites do campus, o corpo original do Edifício Cardeal Leme. A composição é bela e orgânica. Conforma-se à sinuosidade das encostas do Morro Dois Irmãos e, na curvatura adotada, dá continuidade ao desenho modernista do vizinho Conjunto Habitacional Marquês de São Vicente, o Minhocão, projeto de 1951 do arquiteto Affonso Eduardo Reidy.

O bloco foi construído entre 1965 e 1971 para sediar o Instituto de Química que, fundado em 1959, tinha instalações precárias na casa nº 21, uma das moradias operárias adquiridas pelas Faculdades Católicas por ocasião da compra dos terrenos para a construção do campus. Nesta casa foi criado, em 1960, o Laboratório de Pesquisas Radioquímicas, com verba do Conselho Nacional de Pesquisas. A casinha deu lugar ao prédio de sete andares, pilotis e subsolo, com área de 7.700 m², projetado para salas de aula, dois grandes auditórios e quarenta laboratórios, uma impressionante expansão que simboliza na dimensão espacial e de infraestrutura as ambições e conquistas científicas e acadêmicas do Instituto e de seu fundador e diretor, o padre Leopoldo Hainberger S.J.

Austríaco, o padre Leopoldo Hainberger ingressou na Companhia de Jesus em 1928, ano de sua chegada ao Brasil, e iniciou seus estudos no Colégio Anchieta, em Nova Friburgo. Ordenou-se sacerdote em 1941 e, após lecionar filosofia e teologia, voltou para seu país para estudar química. Doutorou-se aos 50 anos pela Universidade de Viena, sob orientação do reconhecido químico analítico austríaco Fritz Feigl, refugiado de guerra que vivia e pesquisava no Rio de Janeiro desde 1940.

Os Anuários da PUC-Rio registram as intensas atividades realizadas pelo pe. Hainberger em favor da criação do Instituto e que, segundo relatos de seus colegas professores, pesquisadores e ex-alunos, podem ser tomadas também como medida de sua dedicação em favor do desenvolvimento da área de química analítica no Brasil, expressa na sua importante e vasta produção científica e em sua atividade docente.

Entre viagens e contatos, obteve verbas e equipamentos científicos de empresas, instituições e governos da Alemanha e do Brasil para as obras do Instituto, que se transformou no Departamento de Química após 1968, e para o reconhecimento deste como um centro avançado de pesquisas, um dos principais do país na área de química analítica. Estabeleceu convênios com universidades alemãs que possibilitaram o intercâmbio de professores e pesquisadores, a obtenção de bolsas e a instalação de equipamentos. Um dos principais resultados de sua atuação obstinada foi a criação do programa de pós-graduação em química simultaneamente à inauguração das novas instalações, em 1971. Tais iniciativas expressam o compromisso dos gestores e pesquisadores da Universidade com a formação e aperfeiçoamento de docentes do ensino superior e de quadros capacitados para gerir o acelerado processo de desenvolvimento científico-tecnológico em curso no Brasil naquele momento.

Em 1988, ano da morte do jesuíta, o chamado bloco da química ganhou o nome de Padre Leopoldo Hainberger S.J. e faz-se presente no mapa da memória do campus da PUC-Rio como expressão da gratidão à figura do padre cientista e do projeto de uma universidade em que o ensino e a pesquisa apresentam-se como atividades indissociáveis.

 

 

Silvia Ilg Byington

Núcleo de Memória da PUC-Rio

 

 

Edição 258

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