Empenho em pesquisa
17/09/2012 13:02
Padre Pedro Magalhães Guimarães Ferreira, S.J.

Série Jesuítas na Ciência - 1

A Companhia de Jesus foi fundada por Santo Inácio e 9 amigos, todos de grande virtude, em 1540, com o objetivo de defender e propagar a fé católica. Nos seus primeiros 7 ou 8 anos de existência, tal trabalho era feito essencialmente através da pregação direta, pregação dos Exercícios Espirituais, administração dos Sacramentos e aconselhamento. Em 1548/1549 são fundados (literalmente, isto é, com uma dotação em dinheiro, para que pudessem ser gratuitos) os primeiros Colégios Jesuítas – a palavra “Colégio” tendo um sentido diferente do atual, seus estudos abarcando também os estudos superiores, mas sem conceder títulos universitários, isto cabendo às Universidades. Daqui para a frente a Companhia se torna mais “sedentária”, com vários jesuítas dedicados ao ensino.

Ora, o ensino feito com dedicação, com “excelência”, leva com frequência à pesquisa. E foi isto que aconteceu já na primeira geração de Jesuítas dedicados ao ensino. Clavius, tendo se tornado jesuíta em 1555 (antes da morte de Santo Inácio), pertenceu a esta primeira geração de jesuítas dedicados ao ensino. Noto que não há uma única referência nas Constituições da Companhia de Jesus – elaboradas na segunda metade dos anos 1540 –  à pesquisa científica como atividade própria dos Jesuítas. Mas como dito acima, a pesquisa científica aparece já na primeira geração de jesuítas dedicados ao ensino, pelo empenho de fazer as coisas bem feitas: “le sérieux de l’amour” (Jean Danielou), “ad majorem Dei gloriam” (que pode ser considerado o lema de Santo Inácio). Na realidade, todos os grandes professores da época eram – como convém que seja – pesquisadores. William Ashworth, no seu livro Jesuit science in the age of Galileo, citado por Joseph MacDonnell, S.J., em Jesuit Family Album: Skeches of Chilvary from the early Society, escreve: “A Companhia de Jesus no século XVII tinha entre seus estudantes [Jesuítas em formação] um número estupendo de jovens entusiasmados com as ciências naturais. Efetivamente, durante os 60 primeiros anos do século, os Jesuítas foram a única “sociedade científica” em existência. [A Royal Society foi fundada em 1660]. Em um tempo em que a ciência experimental não estava na moda, os Jesuítas estavam registrando manchas solares, calibrando pêndulos, anotando o tempo de queda dos corpos em torres e fazendo várias invenções engenhosas. Efetivamente, nos campos da geometria, magnetismo, ótica, cartogarfia, mecânica e nas ciências da terra, a maior parte dos cientistas do século foram membros da Companhia de Jesus” (o.c., citado em MacDonnell, p. 81). Por sua vez, David Limberg & Ronald Numbers, no livro God and Nature, citado também por MacDonnell, escrevem: “Pode-se dizer que antes da “Accademia del Cimento” e da “Royal Society”, a Companhia de Jesus foi a primeira sociedade científica [...] na sua habilidade de colher observações e objetos a partir de uma rede mundial de informação. [...]. Se a colaboração científica foi um dos desdobramentos da revolução científica, os Jesuítas merecem uma grande parte do mérito”.  A título de exemplo da presença forte dos jesuítas na ciência, seja observado que a sismologia foi durante algum tempo referida como “Ciência jesuítica”, tal a presença forte dos jesuítas entre os pioneiros desta ciência.

Quanto aos textos que se seguem nas próximas edições, além das fontes citadas, há várias coisas da minha memória, de leituras anteriores ou que ouvi de pessoas que conhecem bem o assunto.

A relação será publicada em ordem cronológica, o que permite uma melhor avaliação da obra de cada um em relação à dos seus contemporâneos.

 

Padre Pedro Magalhães Guimarães Ferreira, S.J.
Presidente da Mantenedora da PUC-Rio

 

Edição 260

 

 

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