As heranças de uma Guerra mortífera
21/05/2014 18:12
Arthur Macedo / Ilustração: Diogo Maduell

O Conflito Mundial de 1914 influenciou diversas produções artísticas, especialmente no campo da literatura e do cinema.


Por ter sido um conflito de proporções globais, que afetou direta e indiretamente milhões de pessoas pelo mundo, a Primeira Guerra Mundial influenciou obras de muitos artistas da época e posteriores. Diversas artes, principalmente nas áreas de literatura e cinema, buscaram retratar aquilo vivido nos campos de batalha, nos bastidores do conflito e as consequências para a sociedade.

No campo literário, uma das mais representativas obras é o clássico Nada de novo no Front (1928), do alemão e veterano de guerra Erich Maria Remarque. O romance, que narra a história de um jovem soldado alemão frente à crueldade da Primeira Guerra, tornou-se um best-seller e, dois anos mais tarde, recebeu uma adaptação para o cinema, premiada com o Oscar de melhor filme. Segundo Luiz Gustavo Vieira, doutor em Literatura Comparada e membro do Núcleo de Estudos de Guerra e Literatura, da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a obra de Remarque é um dos principais exemplos da chamada literatura da desilusão.

– A literatura da desilusão é aquela surgida no pós-guerra e que retrata uma mudança na postura perante o conflito. Até a Guerra, muitos escritores apoiavam o combate, e a literatura glorificava o evento. Um conflito armado era visto como um rito de passagem necessário na vida de jovens para obter-se a glória. Cabe lembrar que a eclosão da Guerra, em 1914, foi recebida com alegria e celebração pela maioria da população dos países envolvidos. A Primeira Guerra e sua literatura mostraram o lado negativo da guerra, expondo quão mortífero e avassalador o evento se tornara com o progresso em armamentos – disse.

Vieira ainda explicou que essa mudança de postura em relação à Guerra foi uma das mais importantes influências e heranças do embate. As guerras passaram a ser vistas com negativismo, impossíveis de serem glorificadas. O livro Tempestades de aço (1920), do alemão Ernst Jünger, é outro exemplo de obra que remete o leitor às batalhas e aos ferimentos vividos pelos soldados.

Nos cinemas, o filme Glória feita de sangue (1957), dirigido por Stanley Kubrick, fez críticas à violência do conflito. O longa conta a história de um general francês que ordena a seus subordinados um ataque suicida. Mas, como nem todos os soldados puderam se lançar a esse ataque, o general exige que a artilharia ataque as próprias trincheiras. O filme tornou-se um clássico antibelicista.

É importante notar que significante parte das obras sobre a Guerra só foi publicada, pelo menos, cerca de uma década após o conflito. Vieira explica o porquê da demora em lançar alguns trabalhos.

– Isso denota a dificuldade, imposta pelo conflito, em encontrar as palavras certas, ou a maneira adequada, para descrever algo sem precedentes na história. Após a Primeira Guerra Mundial, a literatura de guerra desnuda uma lacuna, de natureza irônica, entre a idealização e a concretização da guerra – explicou.

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