Nos últimos anos, o excesso de trabalho e cobranças internas e externas em nossas universidades não têm nos permitido um tempo maior para o sábio exercício de pensar, pesquisar e refletir. A cultura de gerar burocracia vem limitando a nossa capacidade de viver a rotina criativa da academia, transformando-nos em tarefeiros e cumpridores daquele mínimo que se exige para a docência e a pesquisa. A leitura e a reflexão, que exige silêncio e introspecção, para que o objeto estudado possa ser compreendido em profundidade, torna-se cada vez mais difícil dentro de nossos espaços acadêmicos, agitados pelos ruídos das inúmeras atividades paralelas que acontecem e se multiplicam a cada dia. Em outros tempos, os recantos departamentais e laboratoriais eram espaços onde se estudavam e elaboravam com mais tranquilidade as idéias, os artigos e os conteúdos das aulas. Hoje, muitos acadêmicos preferem outros espaços fora da universidade para a construção dos saberes e produção intelectual. Isso não quer dizer que tenhamos que desvincular da vida acadêmica as atividades culturais que são importantese necessárias, mas não podemos deixar de reconhecer que o mundo atual é marcado pelas inquietações e ruídos que muitas vezes escondem as dificuldades do ser humano de confrontar consigo mesmo, e manter uma relação mais contemplativa e profunda com os acontecimentos das ciências e da sociedade. Por outro lado, as agitações e turbulências internas já não são ecos das insatisfações externas da sociedade como outrora, mas, paradoxalmente, são outros ruídos e sons que revelam mais o fechamento das pessoas em suas singularidades ou nas relações grupais limitadas, marcadas por uma passividade silenciosa e um desinteresse pelo debate de temáticas emergentes na sociedade. Talvez o fato esteja ligado a uma reação contra as posturas antiéticas de algumas instituições políticas e sociais de nosso mundo, levando assim ao desinteresse de muitos de nossos jovens universitários pelos assuntos relacionados à ética na sociedade.
Outro desafio em nosso meio universitário consiste na profundidade de nossa reflexão. Embora tenhamos nas boas universidades, excelentes reflexões e produções acadêmicas em livros e artigos, temos que reconhecer que o volume de informações eletrônicas e as facilidades de acesso à internet têm dificultado os processos de discernimento dos jovens no que diz respeito à profundidade e originalidade de alguns conteúdos científicos. O excesso de informação disponível on line muitas vezes não nos permite verificar a veracidade e profundidade dos conteúdos, exceto nos artigos científicos e revistas eletrônicas disponíveis. No mundo discente se percebe certo fascínio pela quantidade de informação e as facilidades de acessos, porém, não tanto uma consciência crítica e seletiva da profundidade dos conteúdos disponíveis. Por outro lado, observa-se em algumas produções científicas, uma excessiva preocupação com as citações bibliográficas de outros autores que, embora necessárias, não podem esconder a originalidade das ideias próprias, pois as mesmas são inovadoras e fundamentais. Citamos muito os outros, e escondemos exageradamente a nós mesmos, naquilo que temos de profundidade, experiência e espírito empreendedor.
Pe. Josafá Carlos de Siqueira, S.J.
Reitor da PUC-Rio