Um passeio pelo entorno da Baía de Guanabara marcou a passagem do ferry boat Ivete Sangalo pelo Rio de Janeiro. Ele foi construído pela empresa TWB, de Santa Catarina, a pedido do governo da Bahia para fazer a travessia entre Salvador e a Ilha de Itaparica.
O diferencial da embarcação é a utilização da tecnologia dual fuel (flex). A técnica empregada permite a utilização do diesel e do gás natural ao mesmo tempo, sendo o primeiro do tipo no país. O sistema é resultado da parceria entre a PUC-Rio e a Petrobras, que, depois de avaliar vários sistemas, optou pelo da Universidade. Segundo o professor Sérgio Braga, do Departamento de Engenharia da PUC, o motor é eletrônico e bastante sofisticado. “Para botar gás, simplesmente se aperta o botão verde e o motor começa a funcionar simultaneamente com o diesel e o gás, com uma proporção de 72% de gás e 28% de diesel”, disse. Para ele, a grande vantagem do sistema é a redução do trabalho.
─ O único que o comandante tem é o de ligar ou desligar o botão. O kit também é muito inteligente. Se o gás acabar o comandante não fica sabendo, pois ele sai sozinho. O que ele faz é dar um aviso informando que a pressão do gás está baixa. E o motor volta sozinho para o diesel, sem nenhum tranco, explicou.
O ferry boat também pode ser considerado um catamarã pelo fato de ter dois cascos. A embarcação ainda conta com seis motores de propulsão, todos convertidos para o gás, sendo dois localizados no casco. O peso do catamarã é outra novidade. Ele tem cerca de 180 toneladas, um sexto do peso normal. E ainda pode transportar mais de 600 pessoas e mais de 70 carros.
A conversão do motor não foi a primeira feita pela equipe da PUC-Rio. Segundo Braga, todos os geradores da Universidade já haviam sido convertidos por eles, além de alguns veículos pesados, como ônibus, e recentemente uma locomotiva da Vale do Rio Doce.
─Hoje o gás é mais barato e grandes consumidores têm o direito de comprar gás pelo mesmo valor dos postos. Financeiramente é mais vantajoso, e em seis meses é possível recuperar o investimento. O meio ambiente também é favorecido, com a diminuição da emissão de CO2. O Brasil é um grande importador de diesel, e reduzindo o seu consumo se reduz a despesa do país com importação do combustível, comentou o professor.
Segundo Braga, a idéia do projeto surgiu a partir da pesquisa de doutorado de Ricardo Hernandez Pereira, engenheiro de pesquisa e ex-aluno da PUC. “Tínhamos desenvolvido um sistema parecido para barcos pequenos na Amazônia, mas o projeto não chegou a ser aplicado. Com esse trabalho de diesel/gás, ganhamos o Prêmio Petrobras de Tecnologia em 2006, na categoria doutorado”, disse.
Utilização no Rio
A embarcação foi desenvolvida para a travessia
A passagem da embarcação pela cidade levou o secretário de Transportes, Julio Lopes, que esteve presente no passeio, a falar da utilização do modelo no estado. “Espero que possamos desenvolver em breve o projeto e que esse passeio pela Baía de Guanabara possa conscientizar a todos para implantação na cidade. E essa parceria com a PUC-Rio é muito importante”, disse o secretário.
Edição 203