As muitas faces do Jornalismo
04/06/2019 09:53
Luana Vicentina

Palestrantes da 1ª Semana de Jornalismo apontam a pluralidade como um mecanismo de mudança social e de inovação nas formas de comunicar

Anna Davis na sala 102K. Foto: Larissa Gomes.

Os jornalistas Gilberto Porcidonio, Luciana Barreto, Angelica Basthi, Anna Davies e Lana de Souza trouxeram a temática da discriminação racial para o campo da comunicação, no debate realizado no quarto dia da 1ª Semana de Jornalismo da PUC-Rio, na quarta-feira, 29. A mesa, mediada pelos professores Carla Siqueira e Carlos Nobre, criticou a modo como os negros são representados nas reportagens e a disparidade entre a quantidade de profissionais negros e brancos que ocupam os cargos nas redações.

Porcidonio observou que o jornalismo moderno nasceu pautado no racismo. Ele mostrou documentos de jornais publicados entre as décadas de 1920 e 1940, em que as matérias abordavam a eugenia e defendiam o embranquecimento da população brasileira. Para ele, a solução dessa construção histórica deve ser a inserção de negros no ambiente jornalístico.

— Ser negro no Brasil é ser cerceado, morto, silenciado. O jornalista ocupa uma posição de privilégio, porque esse profissional precisa circular por todos os espaços. Um jornalista negro ou se deixa embranquecer, para poder sobreviver nesses ambientes, ou ele terá que lidar com os ruídos que a própria presença dele causa nos lugares majoritariamente brancos por onde passar.

Angelica Basthi relembrou a importância do Prêmio Abdias Nascimento, que homenageia o jornalista que morreu aos 97 anos, símbolo do Movimento Negro no Brasil. A premiação visava estimular a produção de conteúdo antirracista e prestigiar os profissionais que atuam em prol dessa causa. Após a terceira edição, o prêmio não teve continuidade.

Luciana Barreto, Angelica Bathi e Anna Davis na sala 102K. Foto: Larissa Gomes.

O assunto que Lana de Souza abordou foi a Comunicação Comunitária, como meio de combate à violência policial nas favelas e de troca de informações entre os moradores da localidade. Ela faz parte do Coletivo Papo Reto, que denuncia os problemas do Complexo do Alemão, promove ações sociais com o objetivo de reduzir danos e produz programas audiovisuais.

— A Comunicação Comunitária é uma atitude antirracista por si só. Nos grandes jornais sempre aparecem notas de supostas fontes oficiais, e aceitamos isso com muita tranquilidade, não buscamos outras fontes de informação. Temos que valorizar os novos formatos, que mostram a realidade a partir do olhar de quem as vive no dia a dia.

Luciana Barreto desenvolveu uma pesquisa sobre discursos de ódio contra negros. Durante o estudo, ela identificou que existe o que ela qualificou como inconvertibilidade do sujeito, ou seja, o fato de que negros não se tornarão brancos. Luciana explicou que essas manifestações não buscam convencer os negros de serem inferiores aos brancos, mas, simplesmente, buscam anular a presença dos negros nos meios sociais.

Luciana Barreto e Gilberto Porcidonio. Foto: Larissa Gomes.

— O discurso de ódio produz conjuntura. Ele é resultado da não-identidade brasileira, do que não queremos ser. O mais grave disso tudo é que, conforme esse discurso circula, mais ele se perpetua. Ou tomamos medidas urgentes, ou vamos ter um quadro que permita um conflito étnico no Brasil.

Jornalismo e entretenimento

Saber transitar por todas as plataformas de comunicação existentes atualmente é muito importante para o bom profissional desta área. Esse foi um dos pontos mencionados na palestra Jornalismo e entretenimento, a última rodada de discussões na quarta-feira. Na mesa, mediada pelo professor Bernardo Portugal, do Departamento de Comunicação Social e diretor de produção artística na Rede Globo, o roteirista e chefe dos programas de humor da Rede Globo, Marcius Melhem, e a redatora do Programa do Faustão Núbia de Lima, palestraram sobre o tema e trocaram informações com os alunos sobre o cotidiano do jornalista que atua nesse segmento.

Portugal afirmou que o propósito do bate papo era mostrar que existe um outro campo de trabalho para os aspirantes a jornalista. Núbia e Melhem contaram como a profissão pode se manifestar em diferentes formatos, e os dois comentaram que o entretenimento não era a primeira opção quando começaram suas carreiras.

Marcius Melhem na sala 102K. Foto: Larissa Gomes.

— Atuar ou escrever ficção não eram opções para mim. Meu sonho era escrever em jornal impresso, eu não me via fazendo outra coisa. Acabei largando o jornalismo econômico e fui saciar minha vontade de contar histórias no humor. — revelou Melhem.

O programa Tá no Ar: A TV na TV, co-criado por Melhem, teve estreia em 2014 e, de acordo com a crítica Luciana Coelho, da Folha de S. Paulo, deixou um legado do humor inteligente na Rede Globo. Melhem contou que o projeto surgiu como uma reação favorável à mudança no conteúdo de comédia do Brasil.

Nubia de Lima, Bernardo Portugal e Marcius Melhem na sala 102K. Foto: Larissa Gomes.

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