Senna, a história de um ídolo
09/10/2008 14:00
Thais Sant'Anna

Duas décadas do primeiro título do mito da Fórmula 1.

Ao ouvir as primeiras notas de Tema da Vitória qualquer brasileiro associa a música imediatamente a Ayrton Senna da Silva. O piloto foi tri-campeão de Fórmula 1, venceu 41 corridas, esteve em 80 pódios e fez 65 pole positions. Há 20 anos, em 30 de outubro de 1988, venceu o Grande Prêmio do Japão, em Suzuka, e conquistou seu primeiro campeonato mundial.

 – ­­Foi uma final de campeonato memorável, pois o Senna surpreendeu. Todo mundo estava achando que o Prost venceria, e o Senna deu a volta por cima. Isso deu uma característica quase épica à corrida, afirma Ernesto Rodrigues, professor do Departamento de Comunicação Social, e autor do livro Ayrton – O Herói Revelado.

 

Senna é um mito do automobilismo, e é considerado um dos maiores esportistas da história do Brasil. Seu talento é reconhecido em todo o mundo, e diversos pilotos já confirmaram se inspirar na sua carreira, como Lewis Hamilton, que usa o capacete com as mesmas cores que o do ídolo, e declarou ser especial ganhar o GP de Mônaco, pista na qual o brasileiro é recordista em vitórias. Michael Shummacher também afirmou não haver mais graça competir após a morte de Senna, pois não havia ninguém à altura dele para disputar os campeonatos.

 

Antes de entrar para a Fórmula 1, Senna mostrou sua habilidade conquistando seis títulos no kart, e vencendo em todos os anos que competiu na Fórmula Ford 1600, Fórmula 2000 e Fórmula 3. Com essas vitórias, chamou a atenção da F1, e foi convidado para ser piloto de testes pelas mesmas equipes que viria a defender em sua carreira: Toleman, Lotus, McLaren e Williams. Como não queria só testar os carros, decidiu ir para a Toleman, única que lhe ofereceu uma vaga de piloto.

 

Sua habilidade é associada ao perfeccionismo e à dedicação ao trabalho. Numa época em que ser piloto de Fórmula 1 significava freqüentar várias festas, viver cercado de mulheres bonitas e passar dias de folga, Senna mostrou um extremo cuidado com a parte física, passou a testar seus próprios carros e honrar seus compromissos profissionais. ”O Senna inaugurou um outro tipo de piloto, uma nova conduta”, diz Ernesto.

 

Mas foi o talento que demonstrou nas pistas, com manobras e ultrapassagens inacreditáveis, que se tornou seu diferencial e fez dele um grande ídolo internacional. Adversários de Senna na época, Nigel Mansell, Nelson Piquet e Alain Prost fizeram sua gana de vencer aumentar.

 

Companheiros de equipe na McLaren desde 1988, Senna e Prost nunca se tornaram companheiros, pelo contrário, protagonizaram juntos uma das maiores rivalidades na F1. No GP do Japão de 1989, Prost era o primeiro da tabela e Senna precisava ganhar a corrida para ter chances de vencer o campeonato. O francês bateu de propósito em Senna, que, mesmo tendo continuado na corrida, foi desclassificado por cortar caminho, e Prost ficou com o título.

 

No ano seguinte, na mesma pista, as posições estavam invertidas, Senna estava em primeiro no campeonato e Prost em segundo. Desta vez, Senna se deixou ser atingido por Prost, enquanto este tentava ultrapassá-lo. Os dois tiveram que abandonar a corrida, e o brasileiro ganhou o campeonato. Essa rivalidade inclusive fez com que uma das cláusulas dos próximos contratos de Prost dissesse que sua equipe não poderia contratar Senna como seu companheiro de equipe.

 

– O grau de exigência a que ele se impunha era desumano, além da coragem pessoal. Basicamente foi o perfeccionismo que fez dele quem ele era. Esse temperamento foi fundamental para que ele se tornasse quem foi, lembra Ernesto.

 

Fora das pistas

 

Quando seus compromissos profissionais acabavam, Senna voltava para o Brasil para ser simplesmente Ayrton. Mesmo sendo um ídolo, tentava levar uma vida normal com a família. Em São Paulo, passava o máximo de tempo possível com seus pais, irmãos, sobrinhos e amigos. Alegre e brincalhão, era o elo de ligação entre todos.

 

Para se divertir, praticava esportes como tênis, corrida e ciclismo. Mas seu principal hobby era o aeromodelismo. Desmontava e montava novamente seus pequenos aviões, e adorava perseguir os que voavam com ele. Ia freqüentemente a Angra dos Reis, onde sua família mantinha uma casa desde que era pequeno. Lá, gostava de ir à praia e andar de jet-ski.

 

Senna era um ótimo empresário, e aproveitava o tempo que estava em São Paulo para administrar as empresas que desenvolveu e concretizou, como a Marca Senna, referencial em produtos de alta tecnologia, e o Senninha, personagem infantil inspirado nos valores de Senna.

 

Mas seu grande objetivo era ajudar as crianças carentes no Brasil. Antes de morrer, costumava comentar sobre sua vontade criar uma ação efetiva de ajuda a seu povo, vítima de uma sociedade desigual. Esse desejo deu origem ao Instituto Ayrton Senna, fundado por sua irmã Viviane Senna.

 

Senna morreu em um acidente no GP de Ímola, na Itália, quando perdeu o controle do carro e bateu em um muro de concreto após uma curva. O desastre foi visto por milhões de pessoas em todo o mundo que acompanhavam a corrida. Investigações apontaram que a barra de direção do carro quebrou.

 

No mesmo final de semana houve outros acidentes. No treino de sexta-feira, Rubens Barrichello perdeu o controle do carro e se chocou com uma barreira de pneus, mas apenas sofreu escoriações e quebrou o nariz. Já no sábado, durante os treinos livres, o austríaco Roland Ratzenberger bateu violentamente em uma curva e faleceu. No carro de Senna, após o acidente, foi encontrada uma bandeira da Áustria, que ele empunharia em homenagem a Ratzenberger, caso vencesse.

 

– Quando ele sofreu o acidente eu tinha 5 anos, era muito pequeno, mas eu me lembro claramente da reação das pessoas, é uma das lembranças mais remotas que eu tenho. Depois com o tempo, eu assisti várias corridas dele em replay e alguns documentários. Eu considero ele um dos maiores pilotos de Fórmula 1, diz Gustavo Coelho, aluno de Comunicação Social e apaixonado por F1.

 

Hoje em dia, o piloto é um herói, e sua história é lembrada em homenagens, tributos e fã-clubes. Ayrton Senna é nome de 24 avenidas, nove ruas e sete estradas, além de bairros, praças, ciclovias e monumentos espalhados pelo Brasil. Sua história virou tema de mais de 50 livros, em diversas línguas, entre elas japonês, húngaro e grego.

 

A imagem de Senna levantando a bandeira do Brasil a cada volta da vitória vai ficar para sempre no imaginário dos brasileiros, que ficam comovidos ao lembrar dos momentos de alegria que ele proporcionou aos domingos durante dez anos. “Correr, competir, eu levo isso no sangue, é parte da minha vida”, dizia Ayrton Senna do Brasil.

 

 

Edição 207

 

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