Organizado por Liana de Camargo Leão e Marlene Soares dos Santos, o livro traz uma coletânea de 14 artigos e dois anexos assinados por estudiosos brasileiros. Os textos abordam aspectos diversos do universo e da produção lírica e dramática do autor, como biografia, linguagem, teatro, poesia lírica e narrativa, intertextualidade, cultura popular e clássica, gênero, música, cinema e traduções para o português. As autoras vieram à Universidade dar uma palestra sobre o autor.
A idéia de montar o projeto foi da professora Liana. “Reunir os textos e cumprir os prazos quase me fez desistir, a dificuldade de reorganizar aqueles que não deram certo também, mas Liana me estimulava e tudo foi dando certo, e eu me animei de novo”, lembrou Marlene. A paixão pelo dramaturgo inglês começou na graduação. “Estudei na UFRJ e tive aulas com a tradutora Aïla Gomes, líamos Shakespeare desde o primeiro ano. Depois de algum tempo, a certeza só se confirmou”, conclui.
Lê-se sobre a vida de William Shakespeare no primeiro capítulo do livro, com Cristiane Smith. Inserido na Inglaterra Renascentista, no início da Idade Moderna, o poeta e ator nasceu durante um surto de peste bubônica, em 26 de abril de 1564, na cidade de Stratford-upon-Avon, na Inglaterra. A autora escreve sobre a vida e família do poeta de maneira contagiante.
Em seguida, Roberto Ferreira situa o momento histórico no qual viveu o autor. O poeta cresceu na agitada Era Tudor, num momento de efervescência cultural. O cenário londrino prosperava com a construção de diversos teatros, favorecendo o trabalho de dramaturgos, como Shakespeare. Com a morte de Elisabeth I, em 1603, Jaime I governa e inicia a dinastia Stuart. A gradual implantação do regime absolutista e da Reforma Protestante contribuiu para as histórias do dramaturgo. A liberdade da língua inglesa na época permitiu, também, a criatividade na produção de novos termos: Shakespeare cunhou mais de 500.
Tão rico e criativo foi o poeta com as palavras, que dificultou a tradução de seus textos. Os trocadilhos e neologismos do poeta inglês são um dos motivos que aguçam o estudo por suas histórias e tempo. “Com a falta de uma crítica brasileira, nossos alunos reclamavam e pediam por uma versão escrita em português”, explica Marlene.
O livro cita o que ler em determinados livros do poeta, possibilitando que o leitor se aprofunde na área que se interessar. Shakespeare tratou de temas atemporais, e Solange de Oliveira reforça a genialidade do poeta no texto que relaciona a violência contra a mulher denunciada no poema narrativo de Shakespeare O estupro de Lucrécia.
Filho do prefeito de Stratford, Shakespeare, que inspira autores até hoje, também teve suas fontes. Ovídio, Sêneca e Plauto, filósofos gregos, o inspiraram numa época em que a cultura era essencialmente auditiva. Por isso, a importância dos teatros. Bárbara Heliodora oferece ao leitor uma breve história dos teatros londrinos no tempo de Shakespeare, enquanto Aimara Resende e Anna Camati escrevem sobre a cultura popular e o lugar da mulher na sociedade elisabetana, respectivamente.
A música que Shakespeare ouviu e usou em seus sonetos é comentada por Caetano Galindo e Luci Collin. Já Liana Leão analisa a presença do poeta no cinema. Com Marcia Martins, professora de tradução do Departamento de Letras da PUC-Rio, lê-se sobre as traduções feitas para o português do Brasil. Marcia lembra que expressões usuais surgiram em obras dele, como “ciúme, o monstro de olhos verdes” e “meu reino por um cavalo”, que provêm de Otelo e Ricardo III.
– Quando você lê as peças, identifica expressões usadas até hoje. A nossa matriz é Shakespeare. Eu atribuo essa contemporaneidade a duas coisas: ele não datou as tragédias e comédias, não há precisão e ambientação das épocas, por isso elas podem ser de qualquer tempo. A outra são as situações e sentimentos humanos que são relidos nas novas perspectivas, afirma Marcia.
Não foi à toa que, na era vitoriana (metade do século XIX), o poeta inglês Walter Savage Landor afirmou “Shakespeare não é apenas o nosso poeta, mas o do mundo.”
Edição 208