Mulheres e racismo no Serviço Social
25/03/2022 17:20
Luanna Lino

Na Aula Inaugural do departamento, professores ressaltam a importância de políticas de ações afirmativas

"Formação profissional em Serviço Social: perspectiva da questão étnico racial e da ação interventiva” foi tema da Aula Inaugural do Departamento de Serviço Social (DSS) da PUC-Rio no dia 16 de março. O debate foi realizado de forma remota e organizado pelas professoras Valéria Bastos e Tânia Jardim para comemorar os 85 anos do departamento e 50 anos do programa de pós-graduação do curso. O professor Márcio de Souza, do DSS, e a professora Jussara Francisca de Assis, da Escola de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF), foram os palestrantes convidados.

Como as mulheres são presença majoritária na área de Serviço social, a professora Jussara Francisca afirmou que a melhor ia iniciar o bate-papo com uma “femenagem”, mistura de homenagem com o prefixo feminino. Ela recitou os contos Eu mulher e O fogo que em mim arde, da escritora Conceição Evaristo, e usou as palavras da mestre em estudos literários, Carolina Marcello, que interpretou o conto Eu mulher, como uma contestação ao patriarcado e a representação da força feminina.

Com base no conto O fogo que em mim arde, Jussara destacou a importância da educação, do ensino superior e das políticas de ações afirmativas para que ela e outras contemporâneas tivessem a possibilidade de escrever suas histórias na condição de mulheres negras. Ela resgatou a obra “Outras mulheres”, publicada pela Editora PUC-Rio, no final da primeira década deste século, de um grupo de mestrandas que tinha como objeto de militância a vivência das mulheres negras.

-Trazendo essas histórias, eu não poderia deixar de resgatar também a passagem tão incrível que tivemos no Departamento de Serviço Social. Um grupo de mestrandas trouxe como seus objetos de pesquisa e de militância as mulheres negras, em um momento muito particular que foi o período de 2008 até 2011.

Jussara lembrou de uma reflexão que a antropóloga Lélia Gonzalez, no livro Racismo e sexismo, no qual ela questiona: “Racismo? No Brasil? Quem foi que disse?”. A indagação de Lélia, segundo Jussara, tem como objetivo mostrar que a democracia racial corresponde a uma neurose cultural brasileira.

 A professora da UFF citou também como o Dossiê Crimes Raciais 2020 aponta o racismo como um problema estrutural e institucional no país. Antes de encerrar a fala, ela reforçou que o racismo, no Brasil e no mundo, é contemporâneo, moderno e que não ficou no passado.

O professor Márcio de Souza relembrou a trajetória e os desafios que enfrentou até se tornar assistente social. Ele contou que sua história com a PUC-Rio começou em 1999, mas ele só ingressou no curso em 2001, e, em 2007, passou para o mestrado para realizar o sonho de ser professor. Marcio revelou que passou por diversas dificuldades devido a sua origem e que precisou receber auxílio financeiro para continuar com os estudos. Criado em uma casa com dez irmãos, com situação financeira precária, ele teve que lidar com a falta de incentivo à educação, por isso defende o direito de todos terem acesso a um ensino de qualidade. O professor exaltou o programa de bolsas da PUC-Rio que possibilita pessoas de baixa renda usufruir de um ensino superior de qualidade.

-Uma vez, durante minha adolescência, ao falar para minha mãe que eu gostaria de fazer faculdade, ela disse: esqueça, você é pobre.

Marcio comentou que a pandemia provocou uma série de problemas ao ensino superior, pois, com as aulas remotas, houve intensificação do trabalho dos docentes. Para ele, a adaptação durante este período significou uma precarização do trabalho, o que, apontou, provocou danos físicos e mentais para o trabalhador que passava horas sentado em frente a uma tela de computador. De acordo com ele, esse processo também resultou em uma deterioração na qualidade da aprendizagem por conta da exaustão dos alunos e professores. A falta de acesso de muitos estudantes a itens essenciais para acompanhar as aulas, como computador e rede de internet em casa, também atrapalhou o estudo.

 

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