O professor Ricardo Rodrigues, do Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, ESALQ/USP, foi o convidado da Aula Inaugural do Departamento de Biologia, ministrada no dia 22 de março, pela plataforma Zoom. Durante a palestra, ele alertou para a expansão da fronteira agrícola que, para ele, é a grande adversidade da área ambiental no Brasil – substituir as formações naturais por atividades de produção.
"Década da ONU de Restauração de Ecossistemas: desafios e perspectivas" foi o tema da palestra e, na apresentação do convidado, a diretora do Departamento de Biologia, professora Rejan Bruni, qualificou Rodrigues como um pesquisador versátil, estimado pela causa da conservação biológica e um exemplo no compromisso da formação de recursos humanos. Rodrigues lembrou que surgem diversas complicações causadas pelo avanço da produção agrícola e é preciso haver um controle.
– Nós fizemos isso e continuamos fazendo pelo fogo. Se é um fundamento do fogo, isso não me permite planejamento ambiental e agrícola da paisagem rural. Em São Paulo, sobrou pouquíssima floresta, e onde sobrou floresta estão as unidades de conservação, o que nos leva a uma reflexão: elas não estão onde deveriam ou precisariam estar. Nessas situações que surgem os problemas ambientais, como erosão, os consequentes assoreamentos.
Ao se referir ao ensino da ESALQ/USP, Rodrigues afirmou ser um desafio lecionar Ciências Biológicas para uma universidade voltada para a área agrícola. O professor acredita que conseguiu avançar muito em integrar as questões ambientais dentro de uma propriedade rural, de modo a mostrar que estas são interdependentes às questões de produção.
Doutor em Biologia Vegetal pela UNICAMP, Rodrigues pontuou que o Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal tem a função de gerar conhecimento científico, com um enorme esforço na formação de pessoas. Segundo o professor, a grande maioria dos proprietários rurais nasceram e nascem com irregularidades ambientais devido, principalmente, à ausência de uma política ambiental integrada com a política agrícola no Brasil. De acordo com Rodrigues, há acúmulo de terra nas mãos de poucos. Nos próximos 20 anos, observou, será preciso recuperar 768 mil hectares de florestas ciliares em São Paulo, por exemplo.
– Temos que pensar numa restauração que traga benefícios para a natureza, mas também para as pessoas. Uma das estratégias é priorizar as áreas com maior potencial de regeneração natural, fazendo o planejamento espacial da produção agrícola com a questão ambiental. Tivemos um aumento de cobertura florestal na Mata Atlântica nas últimas décadas.