Para Ynaê, discutir escravidão em um ano como 2022 é algo imprescindível. Ela relembrou que há exatos 200 anos o Brasil se tornou independente e que há 100 anos ocorreu a Semana de Arte Moderna. Ainda, indicou que este é um ano de eleições decisivas. Para a professora, apesar de tanto tempo e tantos eventos, a escravidão permanece a maior “instituição”.
- A escravidão foi a instituição mais longeva que já se estabeleceu aqui, durou do século XV ao XIX. Fomos o último país do Ocidente a abolir, fora a ilegalidade. Na época, o estado nacional fazia vista grossa porque boa parte das fortunas do Brasil no século XIX era fruto do comércio de escravos. Hoje, essa instituição ainda se faz presente, de outra forma, mas permanece.
Yanaê desenvolve pesquisa em História da América, com ênfase em Escravidão Moderna e Relações Étnico-Raciais nas Américas e destacou as diferenças da sociedade escravocrata do século XV e o que ela qualificou de “a sociedade escrava brasileira” atual. Antes, os escravos dependiam dos senhores para se manterem vivos, e hoje, apesar do ponto de vista moral rechaçar esta conduta, situações análogas à escravidão são realidades para uma parcela social que é majoritariamente negra.
- Hoje os escravos são estruturados pelas necessidades. A justificativa moral que se opõe à escravidão passa pela cor do sujeito. O racismo como entendemos hoje foi engessado na escravidão, com a falta das políticas públicas pós-abolição da escravidão, o negro virou o malandro e o bandido. A criminalidade e a incapacidade, fatores ligados aos negros, os torna mais suscetíveis a se expor a trabalhos como esses.
Ynaê afirmou que o papel do psicólogo se torna ainda mais fundamental nos tempos atuais. Por fim, ela reproduz a fala do documentário de Marcelo Masagão, Nós que Aqui Estamos por Vós Esperamos (1991): o historiador é o rei e Freud, a rainha.