Durante a Aula Inaugural do Departamento de Educação da PUC-Rio, o professor Renato Noguera, do Departamento de Educação e Sociedade, do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), afirmou que a receita para uma educação antirracista está na compreensão da cultura e dos valores africanos. A primeira infância é afetada diretamente pelas desigualdades sociais e acredita-se que discutir o racismo desde cedo causa um impacto profundo no processo de construção da identidade e de subjetividades de crianças negras e brancas.
Coordenador do Grupo de Pesquisa Afroperspectivas, Saberes e Infâncias (Afrosin), Noguera questionou os moldes da educação antirracista por meio do processo do Sanfoka, um ideograma presente no Adinkra, conjunto de símbolos ideográficos do grupo linguístico da África Ocidental. Sendo assim, a educação antirracista é uma abordagem que vai além de coibir a disseminação de posicionamentos preconceituosos. A ideia é valorizar a identidade.
– Sanfoka é um processo de três partes: Sankowhe, que começa com retornar para ver e para observar; Sakotsei, para ouvir e para estudar e Sankofa que tem uma relação com a retomada das condições originarias da vida. Ou seja, uma educação antirracista precisa perguntar também sobre o seu passado e afirmar o presente. Uma educação antirracista não deve se tratar de uma promessa de um futuro melhor e sim de um amanhã – comentou.
Provocado sobre a futuridade e a ancestralidade, o professor observou que pensar no presente se faz necessário na construção de uma educação livre de preconceitos. Para ele, as pessoas criam algumas fantasias muito descoladas da realidade, tudo isso em nome de um futuro e acabam por esquecer o passado. E, assinalou Noguera, na educação tradicional não é muito diferente: a cultura negra é ainda mais negligenciada.
- Na cultura das Áfricas do Oeste, quando uma mulher engravida, ela se conecta com a canção da criança. Quando esta criança nasce, vem ao mundo sobre esta canção, que foi entregue para o pai, a mãe e as parteiras, dando sentido à vida. A adolescência se torna um período de conflito, é justamente o momento em que o jovem começa a esquecer a canção, e de onde veio. Diante disso, existe a necessidade de manter uma conexão com si próprio e com a comunidade. Este adultecimento adultera as questões próprias da vida, se afastando do sentido originado – exemplificou.
O professor, que também é ator, roteirista e dramaturgo infantil, ressaltou que o Departamento de Educação da PUC-Rio tem um compromisso com a educação integrativa. É, segundo possível eliminar tradições racistas dentro da sala de aula.