Histórias de cinema
18/10/2022 16:04
Carolina Smolentzov e Fernando Annunziata

Estudantes organizam volta do CinePUC para exibir e debater cinema

Foto: Nanda Sabino

Assistir e falar sobre filmes são pré-requisitos básicos para quem quer trabalhar com a sétima arte. É o que acreditam os estudantes de cinema que organizam a volta do CinePUC, depois de quatro anos parado. Durante o mês de outubro, serão exibidos filmes do cineasta franco-suiço Jean-Luc Godard, que morreu em setembro deste ano. A sessão de reabertura apresentou o filme Viver a vida (1962), e contou com a mediação da professora de Cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF) Lúcia Monteiro.

A ideia é que os debates sejam divididos em ciclos temáticos de cerca de quatro filmes por mês. Um dos organizadores do projeto, o estudante João Müller conta que a pausa de quatro anos ocorreu por questões de organização, e não por falta de interesse. Ele acredita que a vontade de reativar o cineclube sempre existiu, e a recepção calorosa dos alunos foi prova disto.

- Este tipo de projeto está muito relacionado a uma importância que eu atribuo à cinefilia, ou seja: quero fazer cinema, então na mesma medida quero devorar cinema. Nossa ideia é abrir os horizontes, trazer filmes que são difíceis de encontrar e que na visão geral são difíceis de ser interpretados.

Foto: Nanda Sabino

A iniciativa é organizada e fomentada por alunos, mas eles destacam o apoio do Departamento de Comunicação que, além de divulgar as sessões, cede a sala 102- K toda segunda-feira, às 17h, para os encontros. O pontapé inicial para a retomada ocorreu na disciplina Teoria e Crítica Cinematográfica, ministrada pelo professor Pedro Henrique Ferreira. Além da exibição gratuita de um filme, é realizado um debate com convidados de diversas áreas. Assim, o objetivo é atrair pessoas de cursos e universidades diferentes e fomentar o diálogo no audiovisual. Müller explica que era importante escolher Godard para o primeiro mês, por ser um artista, que, segundo ele, é ao mesmo tempo um marco no cinema e uma figura distante.

- Às vezes, ele é interpretado como uma pessoa muito incompreensível. Faz parte da ideia do CinePUC assistirmos a filmes e nos livrar de toda tentativa de academicismo e de intelectualização. Queremos mostrar que ele é um cineasta como qualquer outro, e temos todo o direito de interpretá-lo, pensá-lo e criticá-lo.

Outro aluno à frente do projeto, Gabriel Carvalho defende que a PUC-Rio deve seguir o movimento de outras instituições cariocas que promovem debates sobre cinema e atraem muitos estudantes da Universidade. Carvalho afirma, também, que o cinema é uma arte que bebe de muitas outras áreas, como filosofia, psicologia e artes cênicas, e a discussão aberta pode beneficiar a todos.

- O debate sobre cinema é importante não somente para os alunos do curso, mas para propagação de cultura. A PUC deve ser um polo de discussão cinematográfica. Eu percebo, pelas sessões que eu acompanho fora da universidade, uma presença muito forte dos estudantes da PUC, só que isto não transparecia dentro do espaço da Universidade. Nós pretendemos propagar vozes diferentes, porque ver filmes diferentes é escutar o outro e perceber a pluralidade e a interdisciplinaridade.

O CinePUC é organizado por alunos (Foto: Carolina Smolentzov)

A professora Lúcia Monteiro diz que o projeto é importante para ampliar as memórias e percepções sobre os filmes apresentados, em especial para os alunos da área do cinema. Ela complementa que a troca de ideias que o CinePUC promove é relevante para a formação dos estudantes.

– É muito importante para os alunos, pois fomenta o repertório dos estudantes, de verem os filmes inteiros, juntos, debaterem. O contexto do CinePUC permite uma outra recordação que ficamos dos filmes vistos. Além disso, o projeto permite a integração de estudantes de diferentes cursos. O aspecto da sociabilidade também deve ser levado em conta, pois os estudantes estão juntos para desenvolver coisas compartilhadas e se conhecerem.

Lúcia comenta que, como o projeto pretende abordar produções nacionais nos próximos meses, vai favorecer a democratização do cinema nacional. A professora completa que isto promove uma oportunidade de o público geral ter contato com novas narrativas.

– O cinema brasileiro tem muita dificuldade de chegar ao espectador. As grandes produções que vêm dos Estados Unidos, em geral, acabam dominando o circuito exibidor. O CinePUC é um espaço para os programas alternativos, como um filme brasileiro, e até iraniano, chegar ao público. Muitas vezes as pessoas acham que não gostam do cinema brasileiro, mas na verdade não tiveram acesso a muitas obras. Isto fortalece o cinema nacional porque torna ele mais acessível ao público.

Professora Lúcia Monteiro (Reprodução: TV PUC)

Calouro do curso de jornalismo, Guilherme Carvalho é um admirador da obra de Godard e esteve na primeira sessão desta retomada do CinePUC. Para ele, o diretor franco-suíço é um símbolo de revolução no cinema tanto no século passado quanto neste.

– Jean-Luc Godard é completamente revolucionário em todas as épocas em que ele trabalhou. Durante 60 anos no cinema, ele revolucionou de todas as formas possíveis, desde Acossado [um dos seus primeiros filmes, de 1960] à Adeus à Linguagem [um dos últimos filmes do cineasta, de 2014].

Ele diz ainda que o debate de filmes na Universidade é importante para alunos de Comunicação, pois promove a interdisciplinaridade, que é uma das premissas do curso. O calouro complementa que o interesse em participar do debate parte de um apreço pelo cinema.

– Como aluno de Comunicação, acredito que entender o cinema de Godard é essencial para entender o audiovisual. O que me atraiu para o curso de Comunicação é a interdisciplinaridade, e entender o audiovisual também é muito importante para o jornalismo. Como Godard foi revolucionário em relação à forma, estudar ele é absolutamente necessário. Para o pessoal, eu, individualmente, me interesso muito por cinema.

Foto: Nanda Sabino

Estudante do 9º período de cinema, Gabriela Callado conta o primeiro contato com Godard foi durante uma aula do curso de Comunicação sobre Nouvelle Vague, e destaca que o diretor foi fundamental para o rompimento do cinema tradicional.

– Eu já conhecia o cinema do Godard. Por meio de outras matérias do curso, assisti ao filme Acossado para falar de Nouvelle Vague. É um cinema de quebra do tradicional, foi bem significativo. Houve cenas gravadas na rua, com figurantes reais, mas eles não sabiam da filmagem e ficavam olhando para a câmera.

Gabriela observa ainda que conhecer diretoras e diretores que construíram o cinema é importante, não só para o profissional mas também para a formação pessoal.

– É importante estudarmos todos os cineastas que tiveram importância no cinema, principalmente o não tradicional. Não só o Godard, mas vários cineastas que fizeram parte da Nouvelle Vague, como Agnès Varda [pioneira do movimento], por quem tenho grande apreço, mas acaba sendo esquecida por ser a única mulher da Nouvelle Vague. Para a minha formação pessoal, a quebra de estética contribuiu para expandir minha criatividade.

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