Cada vez mais cedo, jovens desejam conquistar a independência econômica. Agora, invadem o mercado financeiro e chegam para ficar. Cerca de 166 mil pessoas de 16 a 25 anos investem na bolsa de valores, segundo a B3, bolsa do Brasil. Atualmente, 48% daqueles que entram no mundo das ações estão na faixa dos 25 a 39 anos. Estes números cresceram durante a pandemia, quando havia mais procura por renda extra.
Outros fatores também influenciam o reforço dessa procura, como a redução da taxa de juros, que gera uma renda fixa menos vantajosa, e o aumento do acesso à informação na internet e nas redes sociais, que tornou o estudo de ações mais acessível.
É o caso de Bernardo Trindade, aluno de Economia na PUC-Rio, que começou a se interessar por investimentos após acompanhar notícias e influenciadores digitais que debatem o assunto. Depois, por conta do curso, criou uma base teórica maior. Agora, trabalha na área financeira e continua com aplicações na bolsa em renda variável. Por acreditar que vive em um país com cenário político-econômico por vezes instável, o estudante prefere pensar no longo prazo.
Apesar de ter iniciado a trajetória no universo das ações pelas redes sociais, o jovem de 21 anos afirma analisar de forma cautelosa as informações que recebe. O trabalho e a formação acadêmica o ajudam nessa prática.
- Existem muitos conteúdos na internet sobre investimentos, alguns ótimos e outros péssimos. Quando vendem algo muito fácil, fico com pé atrás. Meus estudos na Universidade me ajudam a diferenciar o que é ruim e bom. Meu trabalho mais ainda - revela Bernardo.
O cuidado é a principal dica que a professora de Finanças da PUC-Rio, Graziela Fortunato, oferece para os alunos. Formada em Engenharia, ela investe na bolsa desde os anos 1990 e faz alertas em sala ao explicar como influenciadores de ações podem persuadir ao prometer ganhos rápidos e sem expor os altos riscos. Ela esclarece como eles ganham dinheiro por meio de comissões ao indicar caminhos negativos dentro do mercado financeiro.
- Antes de seguir influenciadores, é preciso entender o que eles estão fazendo. Aconselho a procurar cursos na B3, uma instituição isenta, que realmente quer preparar investidores, sem indicar nenhuma ação. Ao compreender o mercado, você pode escolher o melhor caminho a partir do que você aprendeu.
Nas aulas, a professora faz recomendações para aqueles que querem começar no meio: investir no tesouro direto. Com pouco dinheiro, jovens conseguem se aventurar nas ações com baixas taxas de juros.
Para Graziela, o conhecimento é a melhor forma de se blindar de fraudes no mundo das ações. Ela está escrevendo o livro infantil Finanças para Crianças, que conta histórias educativas de um menino e a relação com dinheiro. A professora ressalta a necessidade de educação financeira em casa e na escola desde o momento da alfabetização, como aulas obrigatórias, palestras e a introdução do conceito de mesada para os filhos.
Já Igor Rebêlo, de 22 anos, teve outra motivação para começar no mercado de ações: após a Reforma da Previdência, aprovada em 2019, ele ficou preocupado com o futuro. Depois de observar a desordem e a precariedade do sistema, encontrou na bolsa uma saída para obter estabilidade financeira na velhice.
- No Brasil, não há nenhuma garantia que eu vá receber aposentadoria. Decidi me proteger disso com investimentos, que garantem uma renda extra para o futuro. Meu objetivo é deixar o dinheiro trabalhando para mim - explica Igor.
A preocupação dos jovens com a aposentadoria foi refletida em dados na B3. Em março de 2020, logo após a nova proposta da Previdência ser aprovada, o número de investidores com menos de 18 anos era cerca de 11 mil. Em 2022, a quantidade aumentou em 181%, atingindo 30.732 pessoas.