Olhar teológico sobre Guimarães Rosa
14/05/2009 17:00
Carlos Heitor Monteiro / Foto: Ludmila Zorzi

Relação entre literatura e teologia é discutida através da obra do escritor mineiro

As organizadoras do livro, Eliana Yunes e Maria Clara Bingemer,
também estudaram o tema em outros escritores
Literatura e teologia são duas áreas do conhecimento humano que, para muitos, não têm relação. No entanto, o livro Bem e mal em Guimarães Rosa, lançado no dia 5 de maio, na PUC-Rio, mostra como elas estão intimamente ligadas. Organizado pela professora Eliana Yunes, do Departamento de Letras, e pela teóloga Maria Clara Bingemer, professora do Departamento de Teologia e Decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da Universidade, o volume consiste em oito artigos que discutem as contradições e angústias do ser humano. O prefácio é assinado por Vilma Guimarães Rosa, filha do escritor.

 

A interface entre teologia e literatura tem sido objeto de estudo de pensadores do mundo inteiro. Um deles, o teólogo católico Karl-Joseph Kuschel, cunhou o termo “teopoética”, que faz todo sentido quando se estuda uma religião cuja teologia é baseada em livros e documentos escritos. “A Bíblia, por exemplo, tem vários gêneros literários”, lembra Maria Clara. Um dos sintomas do crescimento dessa área de estudos foi a criação da Associação Latino Americana de Literatura e Teologia (Alalite), em 2007, no Rio de Janeiro.

 

Os artigos publicados no livro foram produzidos por alunos de pós-graduação, por ocasião de um curso que Eliana e Maria Clara ministraram em 2006, quando o romance Grande sertão: veredas completava 50 anos de publicação. Uma vez por ano, elas oferecem esse curso de literatura e teologia, que já se debruçou sobre as obras de Manuel Bandeira, Adélia Prado, Clarice Lispector, profeta Gentileza, Bispo do Rosário, Machado de Assis e, também, sobre os contos de fadas.

 

Para Eliana Yunes, a linguagem é o principal elo entre teologia e literatura:

 

– A linguagem da contradição e do mistério é partilhada pela literatura e pela teologia. E a obra de Rosa é, por excelência, sobre o mistério humano. Ele tenta codificar a condição humana e, ao mesmo tempo, abrir frestas para podermos suportar o que não tem explicação nessa condição, afirma.

 

Maria Clara lembra que a discussão entre bem e mal está presente em toda a obra de Guimarães Rosa:

 

– Ele narra o homem como um ser dividido, que não consegue fazer o bem que quer e acaba fazendo o mal que não quer, nas palavras do apóstolo Paulo. O olho do teólogo descobre muito material de estudo nos textos dele. Na verdade, Rosa acabou fazendo teologia sem querer, diz.

 

 

Edição 215

 

Mais Recentes
Uma locadora em tempos de streaming
Com mais de 25 mil filmes e atendimento único, estabelecimento em Copacabana é um pedacinho da memória da cultura audiovisual do Rio de Janeiro
Valorização do cinema universitário na pandemia
Alunos da PUC-Rio participam da Mostra Outro Rio, uma exposição de curtas-metragens produzidos no Rio de Janeiro
Dez anos sem ele
Durante a vida, José Saramago criou um estilo próprio de escrita, de inovação na sintática e na pontuação