também estudaram o tema em outros escritores
A interface entre teologia e literatura tem sido objeto de estudo de pensadores do mundo inteiro. Um deles, o teólogo católico Karl-Joseph Kuschel, cunhou o termo “teopoética”, que faz todo sentido quando se estuda uma religião cuja teologia é baseada em livros e documentos escritos. “A Bíblia, por exemplo, tem vários gêneros literários”, lembra Maria Clara. Um dos sintomas do crescimento dessa área de estudos foi a criação da Associação Latino Americana de Literatura e Teologia (Alalite), em 2007, no Rio de Janeiro.
Os artigos publicados no livro foram produzidos por alunos de pós-graduação, por ocasião de um curso que Eliana e Maria Clara ministraram em 2006, quando o romance Grande sertão: veredas completava 50 anos de publicação. Uma vez por ano, elas oferecem esse curso de literatura e teologia, que já se debruçou sobre as obras de Manuel Bandeira, Adélia Prado, Clarice Lispector, profeta Gentileza, Bispo do Rosário, Machado de Assis e, também, sobre os contos de fadas.
Para Eliana Yunes, a linguagem é o principal elo entre teologia e literatura:
– A linguagem da contradição e do mistério é partilhada pela literatura e pela teologia. E a obra de Rosa é, por excelência, sobre o mistério humano. Ele tenta codificar a condição humana e, ao mesmo tempo, abrir frestas para podermos suportar o que não tem explicação nessa condição, afirma.
Maria Clara lembra que a discussão entre bem e mal está presente em toda a obra de Guimarães Rosa:
– Ele narra o homem como um ser dividido, que não consegue fazer o bem que quer e acaba fazendo o mal que não quer, nas palavras do apóstolo Paulo. O olho do teólogo descobre muito material de estudo nos textos dele. Na verdade, Rosa acabou fazendo teologia sem querer, diz.
Edição 215