Fernando Ferreira: um educador de alma grande
21/07/2024 22:33
Rose Esquenazi*

Morre no Rio, aos 93 anos, o professor Fernando Ferreira, fundador do Comunicar e que se destacou na imprensa como crítico de cinema.

Fernando Ferreira começou a dar aulas na Universidade em 1963 (Acervo Comunicar/JP Araujo)

Fernando Ferreira era um respeitado jornalista e mantinha estreita relação com o cinema quando começou a dar aulas na PUC-Rio, em 1963. No Departamento de Comunicação, o professor ministrou aulas de Técnicas de Redação, Edição em Jornal, Rádio e TV, disciplinas de Cinema e orientou trabalhos de conclusão de curso, nas habilitações de Jornalismo, Publicidade e Cinema.

Durante 25 anos, até 2012, Fernando foi a alma do Comunicar. Gerações de alunos de Jornalismo da PUC-Rio aprenderam tudo com ele. Desde a primeira pauta às grandes reportagens, das regras de português ao melhor estilo de texto. Ele tinha o dom do ensino: descobria o que havia de melhor em cada estagiário e assim viu nascer grandes talentos. Em pouco tempo, os jovens se tornavam profissionais de grandes empresas de comunicação.

No final da década de 1980, os professores Miguel Pereira, Fernando Ferreira e Cesar Romero Jacob fundaram o Comunicar (Acervo Comunicar/Marcia Antabi)

Ao lado dos professores Miguel Pereira e Cesar Romero Jacob, outros dois fundadores do Comunicar, Fernando Ferreira, ou Fê, como era chamado, tinha um método infalível. Na redação, o elogio podia ser público, mas a correção dos erros dos novatos era sempre feita privadamente. Ele sabia que todos sempre podiam melhorar. Ao apurar e escrever o PUC Urgente, o Jornal da PUC, e outras publicações institucionais editadas pelo Comunicar, o estagiário ganhava confiança e, ao entrar em um grande jornal ou emissora de rádio e TV, já sabia o básico, às vezes, muito mais do que isso.

Experiência não faltava ao professor Fernando, o mineiro que se formou em Jornalismo na PUC-Rio, em 1955, e trabalhou nos jornais O Globo, Correio da Manhã e Tribuna da Imprensa, no Rio de Janeiro. Permaneceu em O Globo durante 30 anos, trabalhando como repórter, relações públicas, crítico de cinema, coordenador e chefe da editoria de pesquisa da área de cinema.

 

O cinema, aliás, foi a sua primeira paixão na imprensa. Nos anos 1950 e 1960, ele trabalhou como assistente e chefe da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, onde organizou festivais internacionais. Entre eles, História do Cinema Francês, História do Cinema Italiano, História do Cinema Russo e Soviético, História do Cinema Inglês e Cinema Polonês Moderno. Atuou ainda como secretário-executivo da Comissão de Auxílio à Indústria Cinematográfica (CAIC), que apoiou produções do Cinema Novo. Foi diretor do Departamento do Filme Educativo (DFE) do Instituto Nacional do Cinema (INC).

 

Como crítico de cinema, Fernando trabalhou no jornal O Globo, entre 1962-1980, e na Rede Globo entre 1975-1980. Foi o profissional que por mais tempo assinou a coluna “O bonequinho viu”, identificada pelo desenho do chargista Luís Sá de um boneco palito. A partir de suas análises, o Bonequinho ganhou mais destaque no Segundo Caderno, ao aplaudir ou reprovar um filme em cartaz.

 

Fernando Ferreira no Festival de Cinema Afro-Americano, em 2002, ao lado do ator Morgan Freeman (Acervo Comunicar/Weiler Filho)

Dos anos 1970 aos 1980, Fernando Ferreira foi assessor do Setor de Meios de Comunicação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e chefe do Departamento do Filme Cultural (DFC) da Empresa Brasileira de Filmes S.A. (Embrafilme). Nessa época, ele produziu 49 filmes de curta, média e um longa-metragem sobre aspectos culturais e sociais da realidade brasileira.

 

Inquieto e criativo, Fernando Ferreira sempre esteve atento às novidades. Sob sua coordenação-geral, entre 1987 e 2012, o Comunicar criou os veículos PUC Urgente, Jornal da PUC, Rádio PUC, TV PUC-Rio e TV Pixel, além de implantar o Núcleo de Comunicação Comunitária, o Núcleo de Criação, que se tornaria a Agência.Com, e a Editora PUC-Rio.

 

Em 2010, na edição Especial do Jornal da PUC, em um formato moderno e colorido, Fernando Ferreira disse que a inovação sempre esteve presente em todos projetos.

 

“O Projeto Comunicar surgiu com o objetivo de criar uma maior integração entre os vários setores da Universidade, divulgar a excelência da PUC e mostrar o que ela tem de diferente. Nós estamos permanentemente tentando inovar. E a TV Pixel é um exemplo disso: é mais uma inovação e mais uma possibilidade de interação entre os setores da Universidade. E não podemos deixar de ressaltar que a cada passo que foi dado tivemos o total apoio do Vice-Reitor para Assuntos Comunitários, Augusto Sampaio.”

 

Fernando Ferreira faleceu no sábado, 20 de julho, aos 93 anos. Ele estava internado no Hospital São Vicente de Paulo, na Tijuca. Fernando deixa esposa, três filhos e uma neta.

 

*Professora do Departamento de Comunicação da PUC-Rio.

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