O jornalismo no digital
21/10/2024 12:49
Thaís Helena Andrade

Editora do jornal O Globo comenta sobre o uso de inteligência artificial nas redações

Público presente na palestra. (Foto: Matheus Santos)

Como o jornalismo se comporta diante do avanço das tecnologias de comunicação? Essa foi a pergunta que a jornalista Madalena Romeo buscou responder a alunos do curso de Jornalismo da PUC-Rio em encontro organizado pela Professora Rose Esquenazi. Segundo Madalena, a inteligência artificial já é uma realidade nas redações, porém é necessária a checagem na sua utilização.

— Tudo tem que ser checado. É lógico que existem as fontes que a gente confia, como fontes públicas, fontes do governo. A gente tem que saber de onde vem aquela informação e se está correta.

A jornalista afirma que o uso da inteligência artificial é liberado para fins de facilitação do trabalho, desde que tudo seja checado e a fonte devidamente citada. Ferramentas digitais como o Google Trends, Marfeel e Wikipedia foram mencionadas como meios que auxiliam o trabalho dos jornalistas digitalmente. Essas ferramentas fornecem ideias para matérias e reportagens, porém prescindem de confirmação das informações que produzem.

Madalena Romeo é editora-assistente do jornal O Globo, responsável pela edição da página principal do sítio eletrônico do jornal, chamada de home. A home, em suas palavras, é o primeiro espaço que o leitor visualiza ao acessar o jornal no formato online, e segue algumas diretrizes:

— A home do Globo, que é a primeira página que se acessa, tem que ter um mix de notícias de todas as editorias e de todos os interesses, porque o leitor é diverso. Então, as notícias mais sérias e de maior impacto a gente coloca em cima e depois a gente vai colocando mais o entretenimento, as amenidades.

Madalena Romeo. (Foto: Matheus Santos)

Organizar a página principal do jornal no meio digital envolve a atenção plena de Madalena e demais editores aos acontecimentos do dia. No entanto, é preciso trocar as manchetes à medida que os fatos vão acontecendo, bem como acompanhar as publicações da concorrência. “Não se pode ficar com a mesma manchete o dia inteiro, pois é como se não tivesse nada acontecendo, mas há um monte de coisas acontecendo”, disse Madalena Romeo.

Nesse sentido, a Profª Rose Esquenazi rememora o conceito de digital first:

— O mais importante é o digital. Notícias quentes entram no site imediatamente.

Profª Rose Esquenazi. (Foto: Matheus Santos)

Sobre a dinâmica editorial atual, os desafios e as novidades do jornalismo digital, Madalena admite que, desde que a fonte publicitária migrou do jornal impresso para o meio digital, o objetivo é fazer as pessoas clicarem nas matérias. Para tanto, são utilizadas estratégias para atrair a audiência, dentre as quais um título mais adequado a padrões.

— Convencer o leitor a assinar o jornal é muito difícil, sendo necessário apostar-se em notícias exclusivas, diferenciadas. Para fazer isso, é necessário ter mais tempo e investimento. Uma coisa que gerou muitas assinaturas foram os serviços agregados. Por exemplo: fizemos vários serviços relativos ao Concurso Nacional Unificado, tais como ‘como é que se calcula a nota da prova’, o gabarito extraoficial, correção ao vivo. Os furos jornalísticos também geram muitas assinaturas.

Ela ainda complementa sobre as técnicas usadas para captar o leitor:

— A gente pode fazer uma espécie de escondidinho, não dando a notícia no título, não entregando a justificativa, e fazendo a pessoa clicar na matéria.

Madalena Romeo. (Foto: Matheus Santos)

Além da audiência, Madalena explicou que há mais dois critérios de noticiabilidade para definir se uma matéria vai para a página principal do jornal: importância e timing.

— A importância é um critério mais jornalístico, é o que impacta na nossa vida, no país. Às vezes, [a matéria importante] é a de pior audiência, por exemplo orçamento. Ninguém lê as notícias de orçamento. Outro critério é o timing. A notícia mais importante da manhã não necessariamente será a mesma da tarde, caso em que vai para baixo. E o terceiro critério é a audiência, porém temos que ter cuidado, pois em um site mais popular, a matéria com mais audiência é a manchete, mas no O Globo não.

A audiência, segundo Madalena, é o critério que possibilita o recebimento da receita publicitária, pois o jornal recebe por visualização. No entanto, ela alerta que o jornal não pode se tornar refém da audiência, já que notícia de qualidade custa caro.

Nesse ponto, a jornalista exemplifica que as matérias relacionadas à apuração dos votos de uma eleição, são todas milimetricamente construídas com palavras-chave para ranquear no Google e garantir mais acessos.

— Se você não aparece na primeira página do Google, você fica meio invisível.

Madalena ainda explicou que, antes do advento da internet, não era possível realizar a leitura de acessos em tempo real, o que já foi superado. Hoje é possível identificar o número de pessoas navegando no site do jornal, os picos de acesso, a proporção de acesso em dispositivos móveis e computador, bem como as matérias mais lidas em um dado momento.

— Os picos de audiência da home são às 9h da manhã, quando as pessoas chegam no trabalho e abrem O Globo para ver as notícias do dia. Às 13h, na volta do almoço, e depois na volta para casa, entre 16/17h, para ver a atualização das notícias. Pelo menos três vezes ao longo do dia.

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