O 'Solidarismo' e os tempos atuais
13/11/2024 17:56
Pedro Soares

Obra de Pe. Ávila é relançada em seminário na PUC-Rio

 Mesa de abertura do Seminário 70 Anos das Ciências Sociais: Alberto Gallo, Anderson Pedroso S.J., Ricardo Ismael, Domício Proença Filho e Maria Alice Rezende de Carvalho. Foto: Caio Mateus

As reflexões sobre alternativas para equilibrar o mundo globalizado revestem de atualidade as análises e propostas reunidas pelo padre Fernando Bastos de Ávila em “Solidarismo”. Publicado originalmente em 1963, com o título “Neocapitalismo, Socialismo e Solidarismo”, o livro foi relançado pela Editora PUC-Rio, segunda-feira passada (11), na abertura do seminário que comemora os 70 anos do Departamento de Ciências Sociais da Universidade.

Para o reitor da PUC-Rio, padre Anderson Antonio Pedroso, S.J., a obra revisitada alinha-se ao “necessário resgate do legado intelectual da esquerda católica”. Ele enfatiza que, em tempos “de pobreza extrema”, a Igreja e a Universidade têm o dever de olhar para o mundo e propor soluções:

“Padre Ávila desempenhou um papel fundamental no aprofundamento do pensamento social da Companhia de Jesus, que tem uma importância muito grande na história do Brasil. A ordem dos jesuítas caminhou junto com os desafios do século XX e participou de uma grande renovação da Igreja, levando o Concílio Vaticano II a um embasamento teológico profundo. É uma ordem histórica, que não tem medo da História, e de fazer História”, destacou padre Anderson, na cerimônia.

O autor da publicação avalia que, quando a escreveu, no contexto da Guerra Fria, a polarização entre capitalismo e socialismo não indicava “promover uma sociedade verdadeiramente democrática e cristã”: nenhum dos sistemas econômicos “colocaria os interesses humanitários e o bem-comum no centro das decisões”. Era necessário, diagnosticou o sociólogo, um livro no qual ele sugerisse uma terceira via, alicerçada na Doutrina Social da Igreja.

A proposta e as apreciações de Ávila alimentam um debate plural em torno dos rumos e desafios mundiais, reforça o escritor Domício Proença Filho, membro da Academia Brasileira de Letras, também integrante da mesa inaugural do seminário, composta ainda pelo presidente da seção carioca da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE), Alberto Gallo; e pelos professores do Departamento de Ciências Sociais Maria Alice Rezende de Carvalho e Ricardo Ismael. “Padre Ávila tem uma habilidade muito grande de dialogar com o contraditório, sem conflito, defendendo a posição dele e respeitando diferentes visões, como deve ser o diálogo da alta reflexão filosófica”, destacou Proença Filho.

A densidade vanguardista do jesuíta é igualmente ressaltada pelo jurista Joaquim Falcão, também membro da ABL, no vídeo encaminhado ao lançamento. Falcão e Ávila integraram a Comissão de Notáveis organizada pelo então presidente José Sarney para elaborar um anteprojeto à Constituição Federal de 1988, ao lado de outros intelectuais, como Jorge Amado, Celso Furtado e Miguel Reale. Falcão exalta, no depoimento, a sensatez do colega, “que se revelava à frente do tempo”.

A abertura à vanguarda estende-se à iniciativa privada. A ADCE, dedicada a promover a Doutrina Social da Igreja no meio empresarial, nasceu por influência de Padre Ávila. Segundo o presidente da seção carioca da associação, Alberto Gallo, isso aconteceu depois de uma viagem internacional do religioso.

“Ele foi à Bélgica, onde conheceu a Uniapac (ADCE internacional). Quando voltou ao Brasil, percebeu a necessidade de que o empresariado aqui vivesse um pouco isso”.

A professora Maria Alice Rezende de Carvalho afirma que a obra do Padre Ávila é menos estudada do que deveria no Brasil. “É estranho que eu tenha passado tanto tempo na minha formação sem ter contato com a obra sociológica dele, até que em 2022 me foi pedido para produzir uma bionota sobre ele para a Sociedade Brasileira de Sociologia”, relata.

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