O repórter da TV Globo Pedro Bassan afirmou que é importante que o jornalista se coloque no lugar do outro para contar melhor as histórias retratadas. Bassan participou de palestra sobre carreiras no jornalismo organizada pela professora Flávia Rua, do Departamento de Comunicação da PUC-Rio. Segundo o repórter, o jornalismo concede ao seu profissional a oportunidade única de viver várias narrativas, permitindo que o relato não seja uma reprodução fria e literal do ocorrido. “O relato só é verdadeiro quando nos colocamos no lugar do outro retratado”, ele acredita.
— O ser humano não conta histórias porque sabe falar, é ao contrário. Ele aprendeu a falar porque dentro dele havia histórias pra contar. (...) Uma história bem contada, com começo, meio e fim, agrada. (...) Gente gosta de história de gente.
Apesar das transformações que acompanharam o desenvolvimento das sociedades ao longo do último século, Bassan explica que há fatores da atuação jornalística que não mudam por nada, como uma narrativa que promova identificação do público, a necessidade permanente de leitura e a entrega do jornalista às histórias que quer contar.
— As histórias são feitas quando a gente se põe no lugar das pessoas. (...) Isso é uma das coisas que falei que não mudam e não vão mudar na nossa profissão, por mais que a tecnologia mude. A tecnologia afeta, sim, o nosso trabalho de muitas maneiras e a gente tem que estar sempre se atualizando. (...) Mas algumas coisas não mudam, como esse envolvimento com quem a gente tá contando. E esse movimento vai desde alguém que está sofrendo até alguém que está vivendo o momento mais feliz da própria vida.
Como forma de exemplificar o que explicava, Bassan exibiu três de suas reportagens — uma sobre as enchentes no Rio Grande do Sul e duas sobre as Olimpíadas de Paris 2024 — mostrando histórias emocionantes com personagens reais.
O repórter da TV Globo ressaltou que as profissões da área mudaram com os avanços tecnológicos ocorridos no campo da comunicação. Se antigamente era preciso de um caminhão com antena para entrar ao vivo, hoje é possível fazer o mesmo apenas com uma câmera e uma mochila. No entanto, há elementos da carreira que permanecem imutáveis com o passar dos anos.
— A realidade muda bastante na nossa profissão, no nosso trabalho. A comunicação está sempre mudando, então é uma conversa sobre isso: sobre o que muda e o que é permanente, o que é perene nesse mundo da comunicação.
Em mais de 30 anos de experiência como jornalista, ele relata que, quando começou, o sonho do profissional da área era conseguir um emprego de carteira assinada em uma grande empresa de comunicação. Com o crescimento da internet, veículos tradicionais começaram a encolher e diversas oportunidades que não existiam antigamente tornaram-se viáveis, gerando cada vez mais espaços para trilhar diferentes caminhos e inventar um mundo novo. Mesmo com todas as transformações do período, a necessidade de retenção do público segue como premissa.
— O nosso ganha pão é a atenção das outras pessoas. Essa atenção pode estar numa tela do celular, pode estar em qualquer rede social, no papel que a gente escreve, no livro ou no jornal, mas a gente tem que capturar a atenção das pessoas. (...) Mesmo quando a gente vai contar histórias longas, não pode ter nada sobrando. Se a pessoa sente que está sobrando ela sente que está sendo enganada.
Bassan comenta que o objetivo do jornalista é conseguir entreter cada espectador, de forma que, mesmo que o assunto não seja de interesse geral, o público se sinta envolvido na história bem contada. Para atingir tal resultado, principalmente na TV aberta, é preciso falar para todos, com uma linguagem acessível e autêntica que não segmente a audiência.
— Uma partida é um drama. Não tem muita diferença entre uma novela e um jogo de futebol. Ambos são histórias com começo, meio e fim.
O repórter também fez uma comparação entre as transmissões digitais mais segmentadas e as mais tradicionais produzidas pelas grandes emissoras visando um público geral.
— Eu enxergo mais semelhanças do que diferenças, no fundo é uma história bem contada. Cada um traz os elementos a sua riqueza ali o seu envolvimento, (...) e aí é um pouco do estilo de cada geração.(...) Uma televisão por exemplo não pode focar em um público só. Tem que ter uma linguagem mais neutra porque ela fala pra todo mundo. Fala pro menino do TikTok, mas fala pra avó dele também, tem que juntar todos sem afastar ninguém.
Ao ser questionado sobre o cotidiano de um repórter, Pedro explicou que todas as matérias são feitas de forma instantânea, já que há muitas pautas e pouco tempo para entregá-las, mas com sintonia com a equipe de edição. Além disso, ele ressaltou que há horizontes abertos no mercado para os futuros jornalistas.
— Para quem sai de uma faculdade de comunicação hoje, eu diria que todos os caminhos ainda são possíveis, É possível, ainda, se buscar emprego com uma carteira assinada e fazer uma carreira sólida. Para quem quiser buscar esse caminho, é possível viver com mais autonomia, de trabalhos isolados. E é possível inventar um mundo novo. Isso não é só uma teoria mais. (...) A gente não sabe qual vai ser a próxima transformação, mas a gente já percebeu que essas transformações estão cada vez mais rápidas. Então eu tenho certeza que vocês estão criando a próxima transformação. O futuro está diante de vocês.
Bassan explicou como é o processo de seleção das imagens que passam durante o off — termo utilizado no jornalismo para um texto gravado na voz de um repórter — e fez questão de destacar o trabalho em equipe e o diálogo entre o repórter e a equipe de edição.
— Eu ajudo (a selecionar as imagens), mas sou mais ajudado do que ajudo. (...) Eu acho que qualquer reportagem é um trabalho coletivo, especialmente no audiovisual de maneira geral. Quem faz o audiovisual nunca faz sozinho, é um casamento de ideias.
Como conselho aos futuros colegas de profissão, Bassan enfatizou como o hábito de leitura de quaisquer gêneros textuais auxilia o jornalista, e usou de exemplo como a leitura de poesia ajuda no ritmo da fala para o audiovisual.