A falta de apoio governamental, o preconceito com pautas de meio ambiente e a precariedade da educação brasileira no campo ambiental são os maiores desafios para que ações similares à revitalização da Lagoa Rodrigo de Freitas aconteçam. Foi assinado mês passado um convênio do estado do Rio de Janeiro com a empresa privada Águas do Rio e o biólogo Mario Moscatelli. A iniciativa foi para realizar a revitalização do manguezal da Lagoa. No local, além do reposicionamento de ciclovias, vegetação típica do bioma foi plantada. Deste modo o forte odor no local diminuiu, o hábitat das espécies nativas foi assegurado e os problemas causados pelos aumentos de nível do espelho d´água da Lagoa se amenizaram.
Uma das obras concluídas foi a do Parque dos Patins, na quinta-feira (24), que atualmente é o lar de uma família de capivaras. O local foi contornado pela nova ciclovia para proteger os animais que habitam a região. Mario Moscatelli vê que seu trabalho na Lagoa Rodrigo de Freitas pode servir de inspiração para que a população pressione as autoridades locais, viabilizando mais projetos similares. Mario Moscatelli, biólogo, mestre em ecologia e especialista em gestão e recuperação de ecossistemas destaca uma das problemáticas que impedem o estudo de novos projetos de preservação.
— A revitalização da Lagoa Rodrigo de Freitas exemplifica a efetividade do projeto. É possível fazer a mesma coisa com o Rio das Pedras ou até mesmo a Baía de Guanabara, é tudo uma questão de escala. Porém, existe um problema de natureza cultural, independentemente da quantidade de crises ambientais, não há cobrança. A ideia de trabalhar com obras preventivas é muito difícil, só há exigências quando o dano já foi causado - comentou Mario Moscatelli.
Moscatelli também citou a falta de educação ambiental como um problema, afinal, pessoas plantam árvores impróprias, com a intenção de fazer o bem, mas afetam os ecossistemas dos locais. Mario Moscatelli enfatizou a necessidade de pesquisar as espécies e o local de plantio. O biólogo ressalta a importância de mobilizar a população para a reaplicação do projeto. A falta de questionamentos por parte da sociedade afeta diretamente o investimento do governo na pauta ambiental. Segundo Moscatelli, a ação recebe grande apoio da iniciativa privada, porém, há pouco trabalho do poder público na área costeira.
— Mesmo com as COPs o nível de dióxido de carbono na atmosfera aumenta a cada edição, é irônico. Acredito que nós já passamos do ponto de retorno da crise climática, ela já está acontecendo, precisamos evitar uma grande mudança climática com sistemas de prevenção. Infelizmente eu não vejo isso acontecer em lugar nenhum, ainda mais com a eleição de negacionistas no mundo todo - disse o biólogo.