A Laudato Si, encíclica do Papa Francisco sobre a importância de cuidar do meio ambiente, é antes de tudo um documento que engloba questões sociais, não só sobre ecologia. O cardeal Peter Turkson, relator da encíclica no Vaticano e Prefeito-Emérito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, na conferência do RDV, usou o termo “apartheid climático”, do ex-arcebispo da Cidade do Cabo, capital da África do Sul, Desmond Tutu para caracterizar o contexto atual. A reunião também contou com a participação do Ministro do Superior Tribunal de Justiça Antonio Herman Benjamin.
— A Terra e os pobres estão gritando para nós. O objetivo da Igreja, e de toda a humanidade neste contexto, é se tornar dolorosamente consciente, é ousar tornar o sofrimento do mundo em algo pessoal. A emergência climática tem raízes éticas e espirituais — diz Turkson.
O Cardeal foi um dos principais conselheiros do Papa Francisco sobre questões climáticas, assessor na elaboração da encíclica Laudato Si, que tem como temas proteção ao meio ambiente, sustentabilidade e responsabilidade social. O documento trata diretamente de questões envolvendo as mudanças climáticas e de como a humanidade vai ser afetada por elas. De acordo com Turkson, a questão não surgiu agora, e vem sendo discutida em conjunto com outros bispos.
Na encíclica é discutida a relação de sete atores para promover a “conversão ecológica”. Para isso, esses grupos devem agir em conjunto numa ação social cooperativa com fim de promover o bem estar social. O foco da Laudato Si está principalmente nas populações mais pobres. Ao longo da conferência, Turkson exemplifica que o norte global é responsável por grande parte das emissões de carbono, que afetam diretamente o sul global, onde está localizado a grande maioria dos países mais carentes.
A emissão descontrolada de gases de efeito estufa tem provocado mudanças extremas nos ambientes dos países subdesenvolvidos. Migrações têm aumentado por questões climáticas, como desastres naturais, enchentes e tufões. Países do norte da África e da África ocidental têm sofrido com o aumento da desertificação graças ao aumento das temperaturas do planeta. O cardeal Turkson define essas pessoas como “imigrantes climáticos”, ou seja,o povos forçados a se mudar por desastres ambientais não naturais.
A Organização das Nações Unidas já tem planos de mitigação e de adaptação focado para esses grupos, como o muro verde, uma ação coletiva dos países situados ao longo do Saara. A iniciativa é uma forma de adaptação e mitigação dos danos causados pelo aumento da temperatura do planeta.
Dessa forma, a Laudato Si se baseia na ideia de uma cidadania ecológica, na qual todo setor deve procurar produzir de maneira sustentável, com o fim de conter as consequências do aumento da emissão de gases. O foco não é acabar com a produção de petróleo e gás, principais fontes energéticas que emitem carbono e, sim, mudar a forma de aplicação dessas fontes energéticas na sociedade.
Por fim, Peter Turkson destacou a importância da colaboração de todos para que a Laudato Si não seja apenas um livro e, sim, uma ação em desenvolvimento, que necessita da cooperação coletiva para que se torne viável.