Educação na Afrocidadanização Brasileira
11/12/2024 08:50
Miguel Honorato

Dr. Reinaldo Guimarães reflete sobre o papel da educação para a cidadania racial no Brasil

Dr. Reinaldo Guimarães em roda de conversa. (Foto: Miguel Honorato)

As ações afirmativas como bolsas de estudo, cotas nas universidades públicas e no mercado de trabalho tem um potencial revolucionário para o combate ao racismo e a consequente transformação social do Brasil. O professor Reinaldo da Silva Guimarães defendeu essa ideia numa roda de conversa sobre inserção racial na universidade ocorrida na PUC-Rio. Reinaldo é doutor em Serviço Social pela universidade e docente da Universidade de Vassouras (Univassouras) e Anhanguera. Guimarães define o conceito de “afrocidadanização” como um projeto político que visa dar andamento ao processo de enfrentamento ao racismo na sociedade brasileira, por meio de ações afirmativas que possuem como ponto central, a utilização da educação como ferramenta de mudança social.

Ao longo dos anos, desenvolveram-se na legislação ações afirmativas para a diminuição da desigualdade racial em espaços onde a população negra é sub-representada. A criação da Lei nº 12.711/2012, popularmente conhecida como “Lei de Cotas”, foi uma importante iniciativa para a inserção de minorias no Ensino Superior. Dados levantados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), no ano de 2023, indicaram um aumento de 167% no ingresso de estudantes em universidades federais desde o início da política de inclusão.

Para além das cotas raciais, o professor Reinaldo Guimarães destaca a importância de ações que aproximem a população afro-brasileira de uma formação acadêmica que possibilite a chegada em cargos de prestígio no mercado de trabalho.

— A partir da qualificação profissional dentro da Universidade, aparecem outros momentos para as ações afirmativas. Nós temos hoje patrimônios culturais,  no aspecto da ancestralidade o “aquilombamento”, a atuação dos professores… existem várias outras formas de afrocidadanizar que podem ser também educacionais e pedagógicas. Tudo isso pode fazer com que esta sociedade se transforme.” Afirma Reinaldo.

Durante mais de 300 anos, o Brasil viveu o período de escravização com a desumanização de minorias indígenas e afro na sociedade. Guimarães vê esse processo como um desaparecimento forçado da história e cultura desses povos. A atitude primordial dos europeus colonizadores foi impor os valores eurocêntricos, sem a possibilidade da garantia de direitos equânimes a todos os grupos sociais.

Mesmo com ações afirmativas sendo tomadas recentemente, o resultado dessa herança colonial tem influência na educação atual brasileira. De acordo com estatísticas da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2023, a educação brasileira vem diminuindo sua desigualdade, entretanto, déficits educacionais da população preta e parda ainda persistem. A porcentagem da população branca entre 18 e 24 anos presente nas universidades (29,5%), em comparação a pretos e pardos (16,4%), mostram a marca da desigualdade.

— A medida em que você tem mais indivíduos negros dentro das Universidades, mais indivíduos negros no mercado de trabalho com posições hierarquicamente superiores ou compatíveis você vai mudando as configurações trazendo uma questão que para o movimento negro é fundamental, a representatividade. (...) A educação socializa. A educação pode te socializar para odiar, mas ela também pode te socializar para amar, e isso é importante.

Reinaldo Guimarães, nascido e criado na periferia carioca, demonstra a importância da educação superior para a população afro-brasileira em sua vida. Após ser funcionário da Biblioteca Central da PUC-Rio, se tornou o primeiro Doutor em Serviço Social negro da história da universidade. A mudança do cenário educacional brasileiro, depende estritamente das ações afirmativas que busquem igualar o desigual, possibilitem o acesso a mais pessoas negras a um caminho pouco explorado. Como Guimarães destacou, uma realidade construída em quase 400 anos não se transforma em 12. É uma eterna luta e dever de todos possibilitar o acesso da população afro-brasileira à cidadania plena e igualitária.

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