O equilíbrio entre o novo e o velho na ótica de Alfredo Britto
21/09/2006 17:27
Rafael Nagib / Foto: Felipe Fittipaldi

Alfredo Britto, professor do curso de Arquitetura, é um dos arquitetos mais conhecidos do país. Atento à questão da preservação de imóveis, Britto também destina sua atenção a projetos com o que há de mais novo na arquitetura. A reforma do Arquivo Nacional, no Centro, foi um deles. Atualmente, divide seu tempo entre as aulas na PUC e a consultoria na reforma do Hotel dos Descasados, em Santa Teresa. Além disso, é um dos defensores da Área de Proteção ao Ambiente Cultural (APAC), ação da prefeitura que tem o objetivo de poupar imóveis antigos.

 

Criar, construir, restaurar. Estas palavras fazem parte do manual de obras de qualquer arquiteto. Mas para Alfredo Britto, professor do Curso de Arquitetura da PUC, a sensibilidade para entender o que é ideal para cada espaço é fundamental. Da mesma maneira que defende o patrimônio da cidade, Britto se envolve em projetos com o que há de mais novo na arquitetura. Árduo defensor da Área de Proteção ao Ambiente Cultural (APAC) – medida da prefeitura com o objetivo de poupar edifícios antigos –, o professor critica os que não dão valor à preservação de imóveis.

– Nada é tombado por ser bonito ou feio, mas sim por ter um elemento histórico que testemunha uma época. Nos acostumamos a ver a propriedade como pessoal e isso é arrogante. A APAC preserva valores o que contraria interesses, diz o professor. Ele reconhece que ainda existem muitos erros.

– Há falhas, mas a pessoa que se sente lesada tem de recorrer. Agora, se faz sentido ser tombado, não tem como ficar contra, acrescenta.

Segundo o arquiteto, questões de valor histórico e artístico da cidade devem ser preservadas, e a convivência entre o novo e o antigo, equilibrada. Ele relembra que durante o período ditatorial o Rio de Janeiro sofreu diversas agressões arquitetônicas.

– O Rio de Janeiro não acabou durante a década de 70, porque é um escândalo do ponto de vista natural, explica.

Apesar de ser defensor dos patrimônios, Britto não se considera especialista em restauração. Prova disso é o fato de ele ser consultor das obras que modificarão o Hotel dos Descasados, em Santa Teresa, que ganhou o nome devido ao grande número de divorciados que se mudavam para lá. Com a reforma o hotel vai se tornar um cinco estrelas.

Uma das ferramentas utilizadas por Britto em suas obras é vivenciá-las por dentro. Para isso, monta escritório nos locais de trabalho como forma de sentir o ambiente, como fez nas reformas do Arquivo Nacional, no Centro.

– O grande desafio foi compatibilizar o uso do novo em um prédio que passou cem anos destinados a uma ou outra atividade. Harmonizar um edifício do século XIX com utilidades do século XXI foi o obstáculo a ser vencido, assinala.

Professor há 30 anos, Britto passa seus conhecimentos aos alunos do Curso de Arquitetura da Universidade. Crítico das escolas de arquitetura do Brasil – que considera, na maioria, ruins – ele acredita que o curso da PUC, que ajudou a fundar, será, em breve, um dos melhores do país.

– A PUC é extraordinária, repensa e dá valor a antigos arquitetos, como Reidy [Affonso Eduardo Reidy, arquiteto responsável pelo projeto do Museu de Arte Moderna, morto em 1964]. Tenho uma satisfação enorme em ver um aluno falar nele.

Edição 175