Até se transformar em um bairro de forte apelo comercial e, ao mesmo tempo, arborizado, a Gávea sofreu muitas mudanças. O local já abrigou por 21 anos uma famosa corrida de automóveis, vivenciou a construção do polêmixo Túnel Acústico (sob o Minhocão) e tem importantes imóveis tombados, como o Solar Grandjean de Montigny. Na vida noturna do bairro, destaca-se o Baixo Gávea, na Praça Santos Dumont, reduto da boemia da Zona Sul carioca

 

A Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Gávea foi instituída em 1873 e incluía Ipanema, Leblon, Lagoa, Jardim Botânico, Vidigal e São Conrado. Até a década de 1990, a Rocinha fazia parte da Gávea e, em 1991, foi promovida a Região Administrativa, o que reduziu a extensão e, consequentemente, a população do bairro.

 

A remoção de famílias da favela Largo da Memória, onde hoje é o 23º Batalhão da Polícia Militar do Leblon, deu origem ao Parque Proletário da Gávea, em 1942. Nessa área havia serviços gratuitos, como cursos profissionalizantes, creche, posto médico e capela. Na década de 1950 foi construído o Conjunto Habitacional Marquês de São Vicente, o Minhocão. O projeto foi do arquiteto Affonso Eduardo Reidy e previa a construção de 748 apartamentos, creche, posto de saúde, escola, playground, mercado, lavanderia, teatro, campos de esporte, igreja e um departamento de Serviço Social. Na realidade, apenas o bloco principal com 308 apartamentos, o posto de saúde e as lavanderias foram efetivamente construídos.

 

O arquiteto Dorival Tavela Ramos lembra com saudade dos tempos da Gávea antiga e dos jogos de vôlei com a “Turma da Gávea” no local onde hoje fica a PUC-Rio. “Todo sábado de manhã jogávamos numa quadra muito gostosa, cercada por um amplo bambuzal. As redes eram de bambus grossos e firmes, retirados do próprio local”, lembra. Outra boa lembrança de Dorival eram as caminhadas que hoje são quase impossíveis de serem feitas. “Com as crianças, saíamos da Rua Marquês de São Vicente dentro do Parque da Cidade, até o alto do morro, descíamos como se contornássemos a atual Rocinha e saíamos lá embaixo em São Conrado, na Casas Sendas”, lembra.

 

 

O Parque da Cidade, ou Parque da Gávea, foi criado no terreno onde funcionava uma fazenda de café conhecida como Chácara do Morro Queimado. O último dono do local, o engenheiro Guilherme Guinle, vendeu a área para a prefeitura em 1939. O Parque ocupa 470 mil metros quadrados, com gramados, lagos, trilhas, reserva florestal e o Museu da Cidade, instalado na antiga residência do Marquês de São Vicente.

 

São muitos os caminhos que levam à Gávea. Em 1971, foi inaugurado o Túnel Dois Irmãos, com 1,6 quilômetros, rebatizado em 1997 de Túnel Zuzu Angel, em homenagem à estilista morta no local em 1975. A autoestrada Lagoa Barra começa na Rua Mario Ribeiro e Avenida Padre Leonel Franca (nome que homenageia um dos fundadores da PUC) e facilita a passagem dos moradores da Zona Oeste para a Zona Sul. A ideia inicial era de que atravessasse os terrenos da PUC, mas a solução encontrada foi a construção, em 1972, do Túnel Acústico, debaixo do Minhocão, cuja intenção foi , também, isolar o barulho no bairro da Gávea e não comprometer o conforto dos moradores do conjunto residencial

 

Descendo a Marquês de São Vicente, na Praça Santos Dumont, a área com bares e restaurantes conhecida como Baixo Gávea ou simplesmente BG, é uma área tradicional da noite noturna de várias gerações. O local inclusive já foi tema de um longa-metragem homônimo, do cineasta Haroldo Marinho Barbosa, formado em Engenharia Mecânica pela PUC-Rio.

 

A Universidade foi fundada originalmente em Botafogo, em 1941, por D. Sebastião Leme e pelo padre Leonel Franca, onde funcionavam, primeiramente, as faculdades de Direito e Filosofia. Foi em 1955 que a PUC-Rio inaugurou o campus da Gávea, então com uma área de cerca de 70 mil metros quadrados. Hoje, o campus ocupa mais de 110 mil metros quadrados.

 

Circuito da Gávea

 

De 1933 a 1954, foram realizadas dezesseis edições do então famoso Circuito da Gávea. As ruas do bairro viravam pista de corrida, em um percurso de 11.160 metros, que saía da Marquês de São Vicente, em frente ao antigo número 354, em direção à Praça Santos Dumont, passava pela Bartolomeu Mitre e virava à direita por toda a Visconde de Albuquerque, margeando o canal que liga a Lagoa Rodrigo de Freitas ao mar, para depois pegar a praia pelo Hotel Leblon, subir pela Avenida Niemeyer até o bairro de São Conrado, pegar a Estrada da Gávea para passar na “curva do S”, hoje no meio da Rocinha, passar pelo trampolim – conhecido como Trampolim do Diabo - e finalmente voltar à Marquês de São Vicente. A corrida tinha um número de voltas variável e era realizada de maneira hoje inimaginável: as ruas eram precariamente protegidas, sem isolamento, com os torcedores espalhados sem muito cuidado pelas avenidas. A variação de pisos era grande, havia areia, paralelepípedo, asfalto, concreto e trilhos dos bondes. Para se ter ideia da grandiosidade do evento, até o argentino Juan Manuel Fangio, campeão da Fórmula 1 pela Alfa Romeo, Maserati, Ferrari e Mercedes Benz, participou do Circuito.

 

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As riquezas da Gávea

A Gávea tem muitos imóveis e bens tombados. Entre eles, estão o Solar Grandjean de Montigny, o Chalé da Gávea, o Parque da Cidade, as escolas municipais Luiz Delfino, Manuel Cícero e Júlio de Castilho, Jequitibá, a Casa da Gávea, o Morro Dois Irmãos, a Pedra da Gávea, o Photochart, o relógio de quatro faces próximo ao Paddock, o Hipódromo da Gávea e o Jockey Club e seu muro.