O habitat como sujeito
15/03/2010 13:15
Rodrigo Cabral

Professora Titular da USP discutiu urbanização em aula

Amélia Damiani diz que urbano
e cotidiano não podem ser separados

 

 “Na relação entre habitar e habitat, o habitat é o sujeito”. Essa foi uma das ideias defendidas pela geógrafa Amélia Luisa Damiani, professora titular da USP, em aula inaugural do curso de Geografia e Meio Ambiente da PUC-Rio, no dia 4 de março. A professora convidada – que participou, no mesmo dia, da banca de uma dissertação de mestrado do mesmo departamento – falou sobre o que chamou de “tentativa de decifração ao nível de totalidade com o que acontece com o processo de urbanização”.

 

“Totalidade” porque, para ela, não se pode estudar separadamente o urbano e o cotidiano. Sendo assim, Amélia Damiani refuta a ideia de que os fatores sociais sejam conduzidos pelo estado – fato aceito pela Geografia, segundo ela. “Vejo nisso uma alienação política. A ideia é a sociedade tomar conta de sua condição, sem ilusão nem desaforos”, afirmou.

 

De acordo com a professora, a urbanização pode ser, na verdade, reflexo das condições fundamentais da sociedade, que se transformou em um grande mecanismo econômico.

 

- Na relação entre habitar e habitat, o habitat é o sujeito. Eu não vejo pessoas localizadas em um lugar. As vejo ameaçadas a sair desse lugar.

 

É isso o que ela diz ter observado, por exemplo, em uma recente visita a Paris, onde há áreas inteiras sendo transformadas, enquanto os moradores continuam a conviver normalmente, como se o local ainda existisse. “Há um amortecimento da consciência (dos moradores)”, lamentou.

 

Outro foco da pesquisa de Amélia Damiani é a construção do Rodoanel Mário Covas – o anel viário planejado para circundar a Grande São Paulo, interligando as rodovias que chegam à capital, que deve ficar pronto para a Copa do Mundo de 2014. Segundo a professora, todos já vivem o lado sul, leste e oeste do Rodoanel, mesmo eles ainda não existindo. Isso porque, explicou em seguida, ele funciona como um ativador do que está dentro e fora daquele local, o que acaba gerando uma redefinição do lugar.

 

Amélia Damiani argumentou, ainda, que centro e periferia não são coisas diferentes. Apesar de constatar que de fato existe literatura inibidora da dialética entre os dois, garante que ambos momentaneamente se realizam e estão mobilizados. E, ao final da aula, emocionou-se após mostrar fotografias que tirou em visitas a loteamentos clandestinos no subúrbio de São Paulo “É importante estudar esses tecidos sociais”, concluiu Amélia Luisa Damiani, com a voz ligeiramente mais trêmula.

 

 

Edição 226

 

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