Portão de embarque para novo estilo
02/06/2010 14:30
Thiago Faria / Foto: Bruno Pereti



O escritor Lucas Viriato de Medeiros
Viajar duas vezes à Índia tinha sido até então um dos maiores vôos do jovem escritor Lucas Viriato de Medeiros, formado em Letras e mestrando de Literatura Brasileira na PUC-Rio. Essa visita ao outro lado do planeta e a curiosidade das pessoas rendeu ao aluno dois livros (Memórias Indianas, 2007, e Retorno ao Oriente, 2008) em que ele conta, em fragmentos, todas suas dificuldades e descobertas, como um diário de viagens, mas com uma levada poética.  Agora, o escritor se aventura viajando por mares nunca dantes navegados por ele: a prosa.

 

O seu lançamento mais recente, Os Contos de Mary Blaigdfield – A mulher que não queria falar sobre o Kentucky (e outras histórias) começou a ser escrito por Viriato antes mesmo de cursar Letras na PUC-Rio. O livro é composto por 13 contos curtos sobre uma misteriosa mulher de nome estranho com um passado desconhecido e que não quer falar sobre o que aconteceu no Kentucky.

 

Ele havia publicado alguns trechos em seu blog Atos de Medeiros (www.lucasviriato.blogspot.com) e no jornal Plástico Bolha, em que é editor, mas revela que a versão final do livro, após muitas revisões, está totalmente diferente.  Do início até a edição final, foi um trabalho muito grande de mexer no livro, trocar e mudar palavras. Eu acho que os contos cresceram e melhoraram muito nesse período de trabalho com a editora”, disse.

 

O grande problema na publicação de um livro, segundo o autor, é ter que arcar com parte da publicação. Há também certo receio da mídia em publicar uma matéria sobre o livro lançado porque seria um caos se todos que lançam livros quisessem publicar matérias nos jornais. “Você já tem umas regras pré-estabelecidas de anti-surgimento de novos autores”, brincou Viriato.

 

Passear por todos os autores clássicos fazendo uma brincadeira pelos estilos é um traço comum da geração de escritores do autor.  Para ele, seria a falta de traço comum que torna as produções atuais mais leves. “As pessoas conseguem tirar um sarro com a tradição sem dialogar solenemente com elas. Os projetos hoje são bem menores”, disse.

 

Para o mestrando, há muita gente produzindo, como poetas e grupos de poesia, e que muitas vezes muita gente não sabe. “Às vezes parece que tem mais gente escrevendo do que lendo”, afirmou. Viriato acredita que a leitura de livros possa ser ainda precária na atualidade, mas que, em um âmbito mais geral, até lemos demais, de jornais e revistas às legendas de filmes e até mesmo do próprio estilo das pessoas.

 

Recentemente, o escritor foi convidado pelo CEP 20.000, Centro de Experimentação Poética, no Humaitá, a fazer apresentações e um lançamento do novo livro. Esse é um projeto que existe há vinte anos com o comprometimento de reunir novos expoentes da literatura e a fazer um diálogo com os tradicionais escritores. “Gerações e gerações de poetas e artistas relacionados à poesia passaram por ali como se fosse um tipo de ritual, uma iniciação. Agora chegou o momento em que a minha geração está encontrando o CEP para, quem sabe, nos tornarmos mais poetas”, disse.

 

 

Edição 229

 

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